São Paulo, terça-feira, 7 de maio de 1996
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Propina é "verossímil", diz Iterpa

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O presidente do Iterpa (Instituto de Terras do Pará), Ronaldo Barata, disse ontem que a existência de um suposto esquema de propinas de fazendeiros pagas a policiais para matar sem-terra é "verossímil" (possível).
"Não vou afirmar que o esquema denunciado existe e sair culpando este ou aquele fazendeiro ou PM, mas que pode existir, pode", afirmou Barata.
O presidente do Iterpa se referia à testemunha que disse à Polícia Federal haver um grupo de fazendeiros que teria pago R$ 100 mil ao coronel Mário Colares Pantoja pela ação da polícia no massacre dos sem-terra, no dia 17 do mês passado.
Pantoja comandou a operação que resultou na chacina de 19 trabalhadores rurais sem terra, em Eldorado do Carajás (PA).
Barata disse ainda que foi informado sobre uma festa que teria ocorrido em uma fazenda de Parauapebas (PA), para comemorar a ação da Polícia Militar. Segundo ele, nessa festa teriam participado alguns fazendeiros.
Fazendeiros
O presidente do Iterpa -uma espécie de Incra estadual- afirmou que, um dia após o massacre, disse ao governador Almir Gabriel: "Aí tem coisa de fazendeiro por trás".
Barata aponta sua experiência nos assuntos fundiários para fazer tal afirmação. Ele também já foi superintendente do Incra e negocia com posseiros, sem-terra e fazendeiros desde os anos 80.
"Espero que IPM (Inquérito Policial Militar) vá até as últimas consequências para apontar os culpados pelo massacre e, quem sabe, desvendar o tal esquema", disse Barata.
O presidente do Iterpa criticou a condução do IPM e a intenção do Ministério Público em pedir o indiciamento dos 155 policiais envolvidos no massacre.
"Não se pode querer investigar tanta gente ao mesmo tempo. O prazo do inquérito é curto e ele deve ser específico para pegar os verdadeiros culpados".
O inquérito tem de ser concluído em 20 dias. O prazo termina no dia 9.
"Cada acusado pode chamar quatro testemunhas. Se forem indiciados os 155, o julgamento só vai acontecer em 2015", disse Barata.
Lista
Sobre a suposta lista de sem-terra "indesejáveis" feita por fazendeiros e entregue a ele e ao secretário de Segurança, Paulo Sette Câmara, Barata disse ser "uma estratégia oportunista dos deputados do PT".
Um vídeo divulgado na sexta-feira pelo PT mostra o presidente da Faepa (Federação de Agricultura do Pará), Carlos Xavier, entregando um papel ao secretário de Segurança.
Na fita, Paulo Sette Câmara repassa o documento a Barata, ao final da reunião entre fazendeiros e o governador Almir Gabriel, no dia 1º de abril.
Segundo os deputados, o papel conteria a lista dos sem-terra "indesejáveis".
"Aquilo era uma fotocópia de um pedido de reintegração de posse", disse Barata.
"Mas o PT quer tumultuar. Eles (os deputados) não têm interesse em solucionar os problemas no campo porque essa é última bandeira do partido", disse o presidente do Iterpa.
"Se perderem essa bandeira, não se elegem nem para síndico de prédio", afirmou o presidente do Iterpa.

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