São Paulo, terça-feira, 7 de maio de 1996
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Saudáveis divergências

JUCA KFOURI

Matinas Suzuki Jr. e eu divergimos em muitas coisas. Ele, por exemplo, gosta, e muito, de boxe. Eu detesto -embora não perca nenhuma grande luta.
Ele aprovou o aviãozinho de Zagallo na África do Sul. Eu desaprovei. Finalmente, para citar apenas a divergência mais recente, Matinas defendeu que o Corinthians se poupasse diante do Palmeiras com um argumento aparentemente inatacável: nem uma hipotética vitória alvinegra alteraria os rumos do Campeonato Paulista, o que é indiscutível.
E o Corinthians precisa pensar é na Libertadores, concluía, também com meu aplauso.
Mas essa discordância me pôs a pensar sobre as saudáveis diferenças que as paixões esportivas desencadeiam.
Ora, tenho feito deste espaço uma trincheira sistemática a favor de se privilegiar a Libertadores e, mesmo assim, concedi uma honrosa exceção ao clássico dos clássicos entre os paulistas.
Acho, a propósito, que o Corinthians não deve se desgastar nem tentando devolver a goleada do Cruzeiro na Copa do Brasil nem no jogo contra o São Paulo no domingo que vem. Todas as atenções devem se concentrar no Grêmio, adversário nas quartas-de-final se o Imponderável de Almeida não jogar pelo Botafogo no Olímpico. Por que, então (e aqui cometo uma inconfidência que pode me custar caro, embora a chefia sempre tenha poderes para fazer, digamos assim, pequenas cirurgias no texto), o Matinas, cujo sangue é tão alvinegro como o meu, revelou-se frio e pragmático a ponto de achar que o desafio diante do Palmeiras não tinha nada de especial? Logo ele, que gosta de boxe e do aviãozinho do Zagallo?! Pois é. Quem sabe dia desses ele confesse que estava mesmo era com medo de uma goleada daquelas de fazer o derrotado perder o rumo mais que avião da Fly.
Porque parece inegável que o empate com sabor de vitória devolveu aos corintianos a confiança imprescindível para quem sonha em terminar o ano na terra dos Suzuki, enfrentando outro alvinegro, a Juventus de Turim ou, melhor ainda, o lendário Ajax da Holanda.
Desde já fica aqui o convite -ou seria um oferecimento?- para que, na ainda distante eventualidade de o Corinthians ir mesmo a Tóquio, possamos resolver nossas pequenas divergências em torno de um bom saquê na capital do Sol Nascente.

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