São Paulo, terça-feira, 7 de maio de 1996
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BRECHA ESTREITA

Faz um ano que se iniciou o desaquecimento da economia brasileira.
As vendas até o início do segundo trimestre de 1995 foram ainda vigorosas, mas o efeito sucessivo de juros elevadíssimos e contenção do crédito foi fazendo vítimas, como queria o governo: produção e vendas caíram, o desemprego disparou e o sistema financeiro foi asfixiado por taxas galopantes de inadimplência.
No final do primeiro semestre, a crise bancária já era um fato, e o pessimismo só aumentou até o final de 95.
Em 1996 o cenário é ambíguo. Muitos setores sofrem uma autêntica recessão, o desemprego é recorde e poucos ainda se beneficiam de um dinamismo surpreendente (como os eletroeletrônicos).
Nessa trajetória ainda incerta, maio pode trazer algum alívio. O Dia das Mães, a queda da temperatura estimulando compras de vestuário, a liberação do prazo de financiamento bancário e mesmo o retorno das operações de "leasing" para profissionais liberais podem servir como respiro num ambiente no qual ainda predomina o sufoco. Lojistas chegam a prever para este mês vendas 20% maiores que as de maio de 95.
A ilusão perigosa, entretanto, é justamente comparar os resultados de agora com os do ano passado. Como foi justamente a partir de maio de 1995 que a retração ocorreu, ou seja, como a base de comparação tende a ser cada vez mais baixa, os indicadores de vendas podem sugerir uma retomada que, na prática, será menos vigorosa do que parece.
De todo modo, surge uma brecha, uma oportunidade pela qual muitos industriais e lojistas tentarão passar, na luta pela sobrevivência. Apesar da experiência amarga de 1995, é provável que ainda haja consumidores e empresários dispostos a se arriscar tomando e concedendo mais crédito.
Não há razões para crer no crescimento; todo cuidado é pouco. A brecha permitida pelo governo é estreita, e é real o risco de novas vítimas.

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