São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mais três famílias solicitam indenização

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM XAMBIOÁ

A Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos, do Ministério da Justiça, recebeu ontem três novos pedidos de indenização de parentes de lavradores desaparecidos por terem se aliado aos militantes do PC do B durante guerrilha do Araguaia.
Os parentes dos desaparecidos tinham informações equivocadas ou nem sequer sabiam do direito à indenização de R$ 150 mil, prevista na lei 9.140.
O prazo de requerimento do benefício termina no próximo dia 14.
"Meu marido foi levado de casa, em 1974, por homens do Exército e nunca mais apareceu", afirmou Madalena de Souza, 61.
Ela era casada com o lavrador José Ribeiro Dourado, que ela diz nunca ter ajudado ou compactuado com os guerrilheiros.
Madalena, que tem quatro filhos com Dourado e reside em Xambioá (TO), disse que só soube ontem da existência da lei 9.140.
Segundo Cristiano Morini, assessor da comissão, hoje serão protocolados mais três requerimentos de lavradores que estavam sem acesso ao benefício.
A lei 9.140 já beneficiou 206 famílias de desaparecidos políticos durante o regime militar. Desse total, 60 são de pessoas que participaram da guerrilha do Araguaia.
Entre os participantes da guerrilha, apenas uma família beneficiada é de lavrador da região. Todas as outras 59 famílias que já receberam a indenização são de integrantes do PC do B.
Estima-se que pelo menos 20 lavradores morreram durante o confronto iniciado em 1972 e que terminou no final de 1974.
Ossadas
A comissão interditou ontem, no Cemitério Municipal de Xambioá, uma vala de 16 metros quadrados, onde a moradora Adélia de Souza disse ter visto o Exército enterrar como indigentes cinco corpos de supostos guerrilheiros do PC do B.
O depoimento de Adélia Souza foi considerado rico em detalhes pela comissão, que passou a trabalhar com a possibilidade de que a vala será a primeira a ser aberta entre os supostos 19 cemitérios clandestinos da guerrilha.
Adélia Souza, proprietária de um restaurante, afirmou que os corpos foram enterrados em sacos plásticos. Ela disse que estava no cemitério para rezar no túmulo de seu pai, que havia falecido poucos dias antes.

Texto Anterior: Governo de Rondônia desiste de contestações
Próximo Texto: Brasil causa 'perplexidade' no exterior
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.