São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 1996
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Estrutura inédita é segredo do futebol nos EUA

LUIZ AUGUSTO VELOSO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O futebol profissional está ressurgindo nos EUA. E em bases muito estimulantes.
Sua atual estrutura foi pensada visando a definição de bases empresariais. Mais do que restabelecer uma atividade esportiva, a Major League Soccer foi montada para criar um novo negócio nos EUA.
Estou de acordo com Julio Mazzei, para quem, a partir da experiência passada da North American Soccer League, o soccer criou raízes.
Hoje, já é o esporte mais praticado entre os adolescentes, envolvendo meninos e meninas num número estimado em 13 milhões de praticantes.
É comum anúncios de publicidade e crianças jogando futebol. A própria filha do presidente Bill Clinton é uma entusiasmada jogadora no colégio.
Assim, a MLS definiu como objetivo a junção das comunidades latina e européia nos EUA com a significativa parcela jovem norte-americana.
A novidade está na constituição da estrutura da MLS, sem nada semelhante no esporte profissional.
Os dez times são de propriedade da MLS. Ela tem vários sócios que, por sua vez, operam os times de suas regiões.
Cada um de seus cinco sócios atuais investiu cerca de US$ 5 milhões. Assim, ninguém é dono de um único time e todos são sócios em todos.
Há, entre os empreendedores, gente que já mexe com o esporte profissional. A família Kraft, de Boston, é proprietária do New England Patriots, de futebol americano, e do Foxboro Stadium. Ela opera o New England Revolution.
A fórmula é imaginativa e fruto da reflexão da experiência da NASL. O sucesso depende da capacidade do futebol em se transformar em atividade competitiva atraente.
Seus formuladores pretendem evitar que se reproduza o desequilíbrio à época do Cosmos de Pelé, que, para eles, comprometeu a estrutura.
Desta vez, as equipes foram montadas em dois momentos. No primeiro, pela divisão entre elas dos jogadores da seleção dos EUA e de experientes jogadores estrangeiros.
Depois, em um "draft", em que os times puderam escolher seus jogadores das universidades e de times semiprofissionais já existentes.
*
A consistência de empreendimento pode ser medida pelos patrocinadores da competição. São eles Nike, Budweiser, AT&T, Reebok, Kellogs, Fuji, Umbro, entre outras.
A participação dessas empresas mostra que elas acreditam no projeto e reconhecem a existência de um mercado em torno do futebol nos EUA.
A competição terá a cobertura de TV. A partida final, já marcada para o Foxboro Stadium, em Boston, no dia 20 de outubro, será transmitida em rede nacional pela ABC.
O contexto comporta, evidentemente, desafios. O maior deles está na qualidade do futebol. As partidas têm sido de nível técnico limitado, mas de alta competitividade.
Por outro lado, o público nos estádios se origina das comunidades latinas e européias.
Não tenho dúvida em afirmar que o sucesso se desdobrará, inevitavelmente, em termos internacionais e provocará revolução nos conceitos com os quais o futebol internacional é dirigido. Torço muito por isso.

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