São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 1996
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Descoberto "cúmplice" do HIV no corpo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pesquisadores da Aids nos EUA identificaram a substância que era procurada havia mais de dez anos: uma cúmplice que permite ao vírus HIV infectar pessoas, penetrando em células do próprio sistema de defesa do organismo.
A outra substância -a proteína CD4, que o HIV utiliza para se atracar à célula- já era conhecida, mas os cientistas suspeitavam de que o vírus precisasse de mais um, ou talvez dois, "estacionamentos" -os co-fatores.
A substância descoberta é uma proteína que permite ao vírus da doença, o HIV, se fundir à parede das células antes de penetrá-las. Foi portanto batizada de fusina.
Novos caminhos
A descoberta está sendo considerada uma das mais importantes dos últimos anos, pois abre caminho a três coisas importantes.
Primeiro, seria possível explicar como algumas pessoas podem estar infectadas há mais de dez anos sem desenvolver a doença.
Com a descoberta, talvez possam ser usados animais de laboratório para o teste de futuras vacinas. Por último, criou-se provavelmente um novo alvo para os cientistas mirarem tratamentos.
A façanha foi obra de uma equipe do Laboratório de Doenças Virais, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, de Bethesda (EUA), chefiada por Edward Berger. A pesquisa é publicada hoje na revista "Science".
Os cientistas transformaram uma célula em "vírus" artificial. Isto é, introduziram o material genético do HIV num vírus inofensivo, o vaccinia, que o conduziu ao interior da célula.
Várias proteínas "candidatas" a co-fatores foram testadas juntamente com o linfócito (célula) CD-4, até que se achasse uma cuja presença permitisse ao falso vírus se fundir com a membrana celular.
É provável que cada tipo de vírus tenha um co-fator específico. "Nós prevemos que co-fatores de fusão distintos existam para o HIV-2 e para o SIV -vírus da imunodeficiência dos macacos", dizem os pesquisadores.
Terapia
A descoberta abriu a possibilidade de uma terapia debelar a infecção ao bloquear a fusina, impedindo a fusão do vírus à célula-alvo.
A pesquisa pode elucidar o caso das pessoas que vivem há mais de dez anos com o vírus no organismo, pois substâncias no sangue poderiam estar afetando a fusina.
Já há candidatas: os pesquisadores Paolo Lusso e Robert Gallo descobriram no ano passado que certas proteínas envolvidas nas inflamações diminuem a infecção pelo HIV. Se for confirmado que elas afetam a fusina, será um passo importante na direção de um tratamento eficaz.

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