São Paulo, sábado, 11 de maio de 1996
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Governo reage e agora quer demitir invasores

SILVANA DE FREITAS

SILVANA DE FREITAS; SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

PF abre inquéritos e segurança na Esplanada é reforçada

O governo deu ontem o primeiro passo para demitir, por justa causa, os servidores que participaram de invasões de prédios públicos. A Polícia Federal abriu três inquéritos para identificar responsáveis.
Anteontem, foram invadidos os prédios do Ministério da Fazenda em Brasília e em Belo Horizonte, além de duas subestações elétricas de Furnas (no Distrito Federal e em Jacarepaguá, no Rio).
Os servidores reivindicam reajuste salarial de 46,19%. A greve deve completar um mês no próximo dia 16. Eles não tem aumento desde janeiro de 95.
O comando de greve foi recebido ontem pelo ministro Pedro Malan (Fazenda), que se comprometeu de encaminhar a pauta de reivindicações ao Ministério da Administração e Reforma do Estado.
Os grevistas tentarão marcar uma audiência com o ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. O diretor de Formação Sindical da CUT (Central Única dos Trabalhadores), José Maria de Almeida, disse que Malan se comprometeu a conversar com os ministros da área para resolver a questão.
As investigações da PF serão desdobradas em inquéritos administrativos dos órgãos de origem dos grevistas que venham a ser apontados como responsáveis pelas invasões, segundo o ministro interino da Justiça, Milton Seligman.
Os três inquéritos vão apurar responsabilidades distintas em cada uma das invasões -outras seis subestações de Furnas foram invadidas desde o início deste mês.
Bresser Pereira (Administração) determinou ontem que a sua equipe intensifique auditorias para apurar se está sendo cumprido o corte no ponto dos grevistas.
Danos
No Ministério da Fazenda, os invasores quebraram o vidro da porta de acesso privativa do ministro Pedro Malan. A porta tem vidro especial e o ministério mandou apurar o valor do conserto.
Ontem, um perito da PF fotografou o local para o inquérito. Cerca de 200 grevistas ocuparam o prédio por mais de dez horas.
O delegado de Administração do ministério, Marco Antônio Valadares, disse que não houve depredação dos banheiros.
Delito
"Não há dúvida de que o governo caminha para a montagem de processos de demissão por justa causa", disse Milton Seligman.
Seligman determinou a abertura dos inquéritos ontem de manhã e cobrou do governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), um policiamento mais efetivo na Esplanada dos Ministérios.
Responsabilidades
Milton Seligman responsabilizou o governador e a Polícia Militar do DF pela invasão no prédio do Ministério da Fazenda. "A surpresa das forças policiais é evidente. E essa é uma responsabilidade do governo do DF", disse.
O governador Cristovam Buarque disse que a PM não poderia reprimir uma invasão da qual não tinha conhecimento. "A função da PM é proteger a sociedade e não espionar movimentos sociais."
Buarque sugeriu que o governo federal é responsável por "um clima de profunda instabilidade social" no qual o Brasil estaria entrando. Segundo ele, os acontecimentos de anteontem poderão se repetir em outras cidades.

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