São Paulo, sábado, 11 de maio de 1996 |
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Ex-pedreiro ainda crê na revolução
ARI CIPOLA
Apesar do discurso revolucionário, Lins trocou a guerrilha pelo amor por Neusa, que deixou o ex-marido para viver com ele. Alagoano de Porto de Pedras, Lins decidiu se juntar aos guerrilheiros no Rio, onde militava e trabalhava como pedreiro. Ele chegou ao Pará em 1968, com status de ser um dos primeiros homens recrutados pelo ex-deputado Maurício Grabois, um dos líderes do partido. Dois anos depois, apaixonou-se por Neusa, uma moradora da região que desconhecia sua militância política de Lins. Talvez Lins não tenha seu nome hoje na lista de desaparecidos em razão de seu amor por Neusa. O partido colocou a relação entre eles em xeque. Alegando problemas de segurança, o PC do B pediu para que Lins deixasse Neusa para continuar com o grupo. "Foi a decisão mais difícil que tomei em minha vida. Deixei a guerrilha porque já tinha combinado que nós ficaríamos juntos", afirmou Lins. O fato de ter deixado sua condição de guerrilheiro em 1970 não impediu que Lins fosse preso e torturado várias vezes a partir de 1972, quando o Exército fez as primeiras manobras contra a guerrilha no Araguaia. Durante os combates, sua casa era vigiada, e, por várias vezes, foi levado preso para prestar depoimentos: "Os militares acreditavam que os guerrilheiros viriam em minha casa para qualquer tipo de socorro, o que nunca aconteceu. Nós nos encontrávamos na mata, mas, por estar fora, eles nunca me contavam nada que fosse estratégico". Neusa só soube que Lins era "terrorista" quando o marido foi preso pela primeira vez, em outubro de 1972. Lins disse que não foi a paixão que mudou sua vida, "mas seu coração que mudou a vida de sua mulher". "Foi o coração do homem que mudou a mulher. Neusa não sabia nada na época e hoje é uma mulher de fibra, consciente." "Com eleições nunca vamos transformar o Brasil em uma sociedade justa. Nada mudou da guerrilha para hoje, apesar de termos liberdade", diz Neusa. O casal tem quatro filhos, três com nomes de guerrilheiros desaparecidos e um chamado Vladimir, em homenagem a Lênin. Texto Anterior: Criméia vai a suposto cemitério Próximo Texto: Governo quer votar projeto da Câmara Índice |
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