São Paulo, sábado, 11 de maio de 1996
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O liquidificador

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Quem gosta de sangue poderá se deliciar este ano com as 500 Milhas de Indianápolis.
A concorrência entre IRL e IndyCar tornou a mais famosa corrida do mundo em uma verdadeira roleta russa, um vale-tudo insano de velocidade.
A ganância de Tony George, dono do Speedway e articulador da liga paralela, permitiu absurdos como carros 96 disputando com bólidos até de 91.
Em bom português, vai ter gente virando a mais de 360 km/h em cima de quem pode dar, no máximo, 270 km/h.
Não é necessário ser bom em física para entender que a brincadeira vai acabar mal. Resta só apostar qual será o número de baixas.
Pior, parece que a cizânia não dura até o final do ano. Dizem que George já baixou a crista, percebendo que seu vôo solo não iria longe.
E que as disputas judiciais vão acabar em pizza depois de decidirem quem pagará os honorários dos advogados.
Indianápolis é um despautério, assim como o é o Grande Prêmio de Mônaco. Mas a tradição inigualável tornou essas corridas imutáveis.
Ainda bem. Caso contrário estaríamos fadados a um calendário estéril, nos chamados circuitos modernos.
O que está acontecendo no oval, no entanto, é uma irresponsabilidade. Criou-se um liquidificador humano, desesperado, oportunista.
Automobilismo, de fato, não é um negócio seguro. Mas o mínimo de bom senso deve se cobrar de quem organiza uma prova.
E sensatez, neste caso, não significa acabar com uma "Eau Rouge", onde é necessário ter, como dizem, três bolas -desculpem o baixo calão, mas não resisti.
Ser sensato, ao organizar uma prova, é tomar as providências necessárias para garantir a emoção dentro dos limites do razoável.
Torná-la um açougue é apelar para a emoção barata.

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