São Paulo, sábado, 11 de maio de 1996
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RUÍDO MINISTERIAL

A pequena reforma ministerial promovida nos últimos dias parece não ter conseguido até agora eliminar ruídos no governo -se é que não criou novos atritos. Sem claros indícios de ter harmonizado a composição do primeiro escalão e afinado o relacionamento entre o Executivo e o Congresso, as mudanças na área política produziram descontentamento no partido do presidente e uma disputa no mínimo verbal entre este e o PFL, o principal aliado.
O PFL recusa-se a aprovar a proposta de regulamentação da telefonia celular elaborada pelo Ministério das Comunicações, e o PSDB ameaça aliar-se com o PPB para levá-la adiante. De outro lado, as concessões do governo aos partidos aliados produziram uma espécie de "revolta" acenada pelo PSDB, em disputa por mais espaço político.
É bem verdade que parte dos atritos deve-se a circunstâncias mais gerais, das quais é difícil escapar. Com relação ao salário mínimo, por exemplo, parece claro que o discurso dissonante de parlamentares do PSDB deve-se também à dramática situação social do país e às críticas que o governo tem recebido por sua fraquíssima atuação nessa área.
A difícil situação financeira do Estado contribuiu para que o governo corrigisse o mínimo abaixo da inflação. Mas, ainda que o Planalto tenha motivos, o fato é que se trata de uma remuneração pífia e, portanto, de fato sujeita a críticas.
Ao não reajustar os salários do funcionalismo desde janeiro do ano passado também é natural que se produzam tensões, ainda que só a prepotência covarde e antidemocrática possa explicar a irresponsável e inaceitável invasão de prédios públicos.
Autoridades governamentais atribuem a falhas de comunicação o que dizem considerar como uma onda de "pessimismo". Não resta dúvida que o marketing ajuda. E o da administração federal talvez não esteja mesmo tão bom. Mas pode-se razoavelmente indagar até que ponto não é a vasta diversidade política e partidária do Executivo que produz, previsivelmente, tão audíveis ruídos.

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