São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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'O SUS está desenganado', diz especialista

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Brasil gasta uma fortuna em saúde e emprega muito mal o dinheiro." O diagnóstico não é de um médico, mas de um pesquisador do Ipea, Francisco Oliveira, especialista em seguridade social.
Segundo dados de relatório de 1990 do Banco Mundial, o Brasil é o segundo país da América Latina que mais gasta com saúde: US$ 130 per capita/ano. Entretanto, está abaixo da média do continente em vários indicadores de saúde (veja gráfico na página ao lado).
"O Sistema Único de Saúde, o SUS, está desenganado. O Brasil está investindo em um modelo que o mundo já concluiu que não funciona", prossegue Oliveira.
Para ele, o sistema de remuneração por serviços prestados é um incentivo à fraude. Os hospitais ganham mal e por paciente internado. O resultado, diz, é que eles inventam internações para se viabilizarem economicamente.
Oliveira cita conclusões de uma comissão interministerial montada no governo Itamar para analisar os gastos com saúde: as fraudes chegavam a 60% das Autorizações para Internação Hospitalar (AIHs) em Estados como o Ceará.
O pesquisador do Ipea diz que não adianta descentralizar as ações de saúde para Estados e municípios. "Isso só transfere o problema, não acaba com ele. Há 23 anos estamos nesse nhenhenhém e o serviço de saúde só piorou", ataca.
Oliveira defende a adoção do sistema de saúde da Califórnia. É um vale-saúde para a população, que pode escolher o prestador de serviços que considerar melhor.
O pagamento aos hospitais é proporcional ao número de pessoas cadastradas para serem atendidas lá. Se um paciente está insatisfeito, ele muda de hospital e o serviço que o atendia perde a remuneração correspondente.
A lógica do sistema é inversa à do SUS: quanto menos internações, maior o lucro do hospital. O bom atendimento é garantido pela concorrência: quem perde pacientes perde dinheiro. Essa é a diferença entre o modelo americano e o adotado pela prefeitura paulistana.
Em São Paulo, os hospitais têm monopólios de área. Atendendo bem ou mal os seus pacientes, sempre terão a remuneração correspondente aos habitantes da região porque não há concorrência.

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