São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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A carestia semeada pela equipe FHC

ALOYSIO BIONDI

A carestia está aí. No interior e no atacado, os preços do milho, soja, trigo e arroz tiveram alta nas últimas semanas de até 100% na comparação com 95.
Aos poucos, essa alta vai chegando ao varejo, aos supermercados, com aumentos de preços em cadeia para o consumidor: o trigo encarece o pão, massas e biscoitos; milho e soja puxam o custo das rações, que por sua vez pressionam os preços do leite, carne e frangos.
A culpa não é das más condições climáticas. A culpa é do governo FHC e sua equipe Poliana, que há 17 meses vem cometendo erros sobre erros no tratamento dado à agricultura.
Uma equipe que, com sua auto-suficiência e autoritarismo, chegou ao cúmulo de adotar medidas (como a redução de preços mínimos de garantia) para forçar o produtor a reduzir o plantio da safra deste ano.
Pior: ainda agora, a equipe Poliana demonstra total apatia diante do desastre agrícola que ela semeou, e para o qual esta coluna alertava já em janeiro. Há medidas de emergência a serem tomadas para abrandar a carestia, a alta da inflação e evitar mais recessão.
Renda - O aumento dos preços dos alimentos vai reduzir a capacidade de compra (dos outros produtos) da classe média e povão, aprofundando a crise e o desemprego na indústria.
Como abrandar o risco? É preciso que a renda resultante do aumento dos preços vá para o bolso dos produtores. Assim, eles compensariam a retração dos consumidores urbanos.
Crédito - Para que os produtores possam vender suas colheitas aos poucos e se beneficiarem com a alta dos preços, o governo FHC precisa liberar crédito e, quando necessário, alterar as regras para a comercialização das safras.
Mas é tudo urgente. Ou o lucro resultante do aumento de preços irá para meia dúzia de atacadistas, empacotadores e varejistas. Qual o mal dessa concentração de lucros e renda? Não haverá aquele aumento do consumo (dos agricultores) compensatório.
Venda direta - O governo federal deve entregar estoques a governos estaduais para a venda direta -a preços mais baixos- de alimentos à população. Abranda-se a carestia e a perda de poder aquisitivo.
Ao contrário
O governo FHC continua a leiloar alimentos de seus estoques a preços baixos. Faz a alegria dos atacadistas e empacotadores, que terão lucro certo com a alta de preços.
Alarme
As vendas de laticínios, enlatados, alimentos industrializados "sofisticados" despencaram desde fevereiro e março. Inevitável, com o congelamento dos salários e o desemprego.
Matemático
Ninguém é imbecil de comparar uma inflação de 20% ao ano com uma inflação de 10% a 15% ao mês. Mas uma inflação de 20% ao ano representa a perda de 20% do poder aquisitivo do consumidor. A retração nas vendas é inevitável.
Salário
O presidente Clinton está defendendo o aumento do salário mínimo, nos EUA, de US$ 4,25 para US$ 5,10. A hora.
Misterinho
O Banco Central costumava ter lucro médio de R$ 15 bilhões por ano, entregue ao Tesouro, reduzindo seu rombo. Desde 95, vem tendo prejuízo. Escondidinho. O governo só divulga o rombo do Tesouro e do BC somados, não o de cada um.
Masoquismo A indústria paulista demitiu 13 mil em abril. Comemora-se, porque foi o "menor número" desde janeiro. É. Depois de demitir 300 mil em 12 meses.

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