São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Terror à brasileira entra em cena

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um apartamento próximo à praça da República, em São Paulo, se transformou em locação do filme que será o primeiro no Brasil a ter orçamento zero.
Trata-se de "Urubuzão Humano", uma fita trash de Diomédio Morais, a partir da HQ de Julio Y. Shimamoto, quadrinista consagrado nos anos 60 e 70.
As filmagens começaram há três meses e praticamente 50% do filme já está rodado. O diretor prevê concluir o filme até setembro.
Morais não inscreveu o projeto nas leis de incentivo à cultura. Sua idéia é fazer um filme em cooperativa com as 46 pessoas que integram o projeto.
Bônus-ingresso
Atores e equipe técnica se encarregam de produzir shows, camisetas e adesivos para arrecadar fundos. Eles bolaram até um bônus no valor de R$ 1 que dá direito a um ingresso para ver o filme.
Os carros de cada participante do projeto viraram os transportes oficiais de câmeras e de atores.
O equipamento foi cedido pelo produtor de filmes da Boca do Lixo Francisco Cavalcanti. "Só não estou rodando em cinemascope, que eu adoro, porque não consegui as lentes", conta Morais.
Cinemascope é um processo cinematográfico que, ao reproduzir as imagens, acentua a horizontalidade na tela.
E o negativo? "O negativo eu comprei fiado para pagar fiado", brinca o diretor.
Sua idéia inicial era gravar "Urubuzão" com dez latas de filme preto-e-branco. "Mas o projeto cresceu e tenho agora contadas 32 latas de filme Fuji de 35 mm." Cada tomada feita é definitiva. Por isso, o diretor ensaia algumas vezes cada cena antes de rodá-la.
Morais já fez roteiros para quadrinhos, TV, teatro e cinema, e se formou como diretor gravando em super-8 e com filmes produzidos na Boca do Lixo. Apesar de ter 17 anos de carreira, "Urubuzão" é seu longa de estréia.
Ele define trash como uma preocupação estética. "Tem trecho em que um ator interpreta um engraxate e, na sequência seguinte, ele é um policial. Isso talvez seja trash."
"Urubuzão Humano" é a história do herói Urubuzão, um personagem que vive de comer cadáveres no cemitério. "É um ser meio homem, meio urubu e ninguém consegue apanhá-lo", descreve Castor Guerra, o protagonista.
Outras tramas acontecem paralelas, como a do personagem Dr. Sinistro, que rapta atrizes de novela e de cinema e corta o rosto delas.
Entram em cena os policiais, mas as atrocidades prosseguem até durante as investigações.

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