São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Suassuna relança o movimento Armorial

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O pensador da cultura pernambucana, dramaturgo e secretário da Cultura de Pernambuco Ariano Suassuna quer relançar o Movimento Armorial.
Nos anos 70, o movimento realizou um trabalho de resgate da cultura popular nordestina na música, teatro, dança, cinema e artes plásticas.
O projeto do professor Suassuna, como ele é conhecido no Recife, tem início na área musical, com o lançamento do Conjunto Romançal de Câmara.
O grupo tem músicos coordenados por Antônio José Madureira, ex-integrante do Quinteto Armorial.
A diferença entre o Romançal e o Armorial está em parte do repertório -que desta vez tem músicas de compositores nordestinos mais jovens- e no número de músicos.
Com estréia prevista para agosto, o Romançal tocará músicas barrocas brasileiras do século 18, românticas do século 19 e composições do século 20.
Quatro músicos participam do conjunto: Antônio José Madureira, no violão e viola brasileira, Aglaia Costa Ferreira, no violino e rabeca, Sérgio Accioly Campelo, na flauta e pífano, e João Carlos dos Santo a Araújo, no violoncelo e marimbau.
"Não chamamos o grupo de quarteto nem quinteto porque resolvemos deixar em aberto. Os quatro serão a espinha dorsal do conjunto, mas vamos trazer mais gente", afirmou Suassuna.
Com o Romançal, ele quer aproveitar a onda de resgate do folclore que está emplacando no Brasil todo. "O jovem gosta da música poética dos cantores populares. Em todo lugar que tocamos é um sucesso", disse.
Nesta entrevista, concedida por telefone, Suassuna fala dos seus planos para o Romançal.
*
Folha - O que é o conjunto Romançal de Câmara?
Ariano Suassuna - Chamei a mesma pessoa que coordenou o Quinteto Armorial, Antônio José Madureira, um músico extraordinário, e pedi que ele coordenasse o grupo Romançal de Música. Ele aceitou e montamos o conjunto, que ensaia para estrear em agosto.
Folha - Qual o objetivo do Romançal?
Suassuna - Estamos procurando levar adiante aquilo que foi esboçado pelo Quinteto Armorial. Nós temos compositores aqui de primeiríssima ordem, como Alfredo Gama, que nem os próprios pernambucanos conhecem mais. E a juventude gosta, tenho experiência. É só a gente mostrar a eles que eles gostam.
Folha - O que é música popular?
Suassuna - No meu entender, música popular é a música feita pelo quarto estado, quer dizer, essa imensa maioria de pessoas analfabetas que constitui o grosso da nossa população. É a música feita pelo povo. Em qualquer país, a arte erudita é feita pelas superações da arte popular. Na Itália, por exemplo, existe a música popular, feita pelo povo, e tem Monteverdi, Vivaldi, que representam superações da música popular.
Folha - Como foram selecionados os músicos do Romançal?
Suassuna - Procuramos em um grupo de músicos jovens do Recife pessoas que tocassem os instrumentos que estávamos querendo. Ao lado de instrumentos eruditos, vamos usar aqueles que o povo nordestino usa. O músico que toca flauta toca pífano também. Tem um que toca violoncelo que vai estudar o marimbau. Tem violão e viola, rabeca e violino. Já fizemos experiências iniciais em março em Porto Alegre com dois dos músicos do Romançal. Foi um êxito danado. A juventude vibrou lá.
Folha - O Romançal é um embrião do que foi o Armorial?
Suassuna - É. Já estamos mexendo em outras áreas. Estamos montando o balé Romançal. Uma de minhas grandes frustrações foi ter criado um balé Armorial que durou muito pouco.
Folha - O Movimento Armorial deu certo nos anos 70?
Suassuna - Não tenho dúvida, e ele continua dando. Grande parte dos jovens músicos do Recife de hoje confessam suas dívidas para com o Quinteto Armorial. O movimento marcou, fizemos experiências até de cinema. O Armorial foi um marco na história do Nordeste.
Folha - O sr. recebeu algumas críticas na época do Armorial. E hoje?
Suassuna - Hoje a aceitação da arte popular e da arte brasileira em geral está muito melhor.
Folha - O sr. vai trazer o Ramançal a São Paulo?
Suassuna - Sim. Tenho uma dívida muito grande com São Paulo, e aí eu tenho um consulado, o teatro Brincante.

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