São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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Peça retrata sofrimento e arte de Frida

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pintora revolucionária, comunista romântica, mulher apaixonada. Frida Kahlo, a mexicana de sobrancelhas grossas que se casou com o muralista Diego Rivera e foi amante de Leon Trotsky, será vivida a partir da semana que vem pela atriz Mika Lins, em uma peça especialmente escrita para ela pelo argentino Ricardo Halac.
Personalidade que ia da extrema doçura feminina a rompantes de agressividade -se vestia de homem na adolescência-, Frida Kahlo teve uma vida de dor. Sofreu 56 operações na coluna. Era manca.
"Ela só conseguiu criar porque não se entregou ao sofrimento", diz Mika. "A dor impede a comunicação. Ela fez o contrário, se comunicou por meio da dor", completa Marcus Alvisi, que divide a direção com Fauzi Arap.
Como criadora, Frida é reconhecida hoje como uma das mais importantes pintoras do século. Anteontem, seu quadro "Os Quatro Habitantes do México" foi vendido em leilão da Sotheby's, de Nova York, por US$ 882 mil.
A montagem não quer se render a um melodrama, tornando-se a narrativa de uma via-crucis. O humor, a política e os amores de Frida tentam fazer com a vida dela, na peça, o que a pintora fez também, nos quadros: seduzir.
"A peça resultou numa grande história de amor. A faceta política é muito forte e há várias situações engraçadas", afirma o diretor Fauzi Arap. Nos amores, entram o marido, Trotsky e também as mulheres de Frida.
Mesmo no campo político, tratando do México dos anos 30 e 40, Arap acredita que o espetáculo vá atingir o público brasileiro, pelo viés da melancolia.
A tristeza ainda esperançosa de Kahlo, vendo as manifestações comunistas minguarem em número de pessoas e repercussão, pode remeter a esta Era na qual as esquerdas parecem ter perdido rumos.
A atriz Mika Lins não é responsável apenas pela criação da personagem. Ela foi a causa de criação da própria peça. Há dois anos, leu uma biografia de Frida e, seduzida pela personalidade, resolveu vivê-la no palco. Para escrever, convidou Halac, a quem já conhecia e que casualmente estava no Brasil.
Antes mesmo do início da escritura, Arap e Alvisi também se integraram ao projeto. Halac incorporou ao texto sugestões de todos eles, Mika e diretores.
Se surgiu como atriz de TV, com lábios grossos e fisionomia sempre comparada à de Sônia Braga, é na pele de uma mulher feia que Mika Lins procura agora sua maioridade teatral.

Peça: Frida, de Ricardo Halac
Direção: Fauzi Arap e Marcus Alvisi
Com: Mika Lins, Márcio Tadeu e outros
Onde: Sesc Anchieta (rua dr. Vila Nova, 245, tel. 011/256-2281)
Quando: estréia dia 23 de maio, às 21h
Quanto: R$ 25 e R$ 12,50

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