São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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Após 35 anos, Bob Dole deixa o Congresso

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O candidato da oposição à Presidência dos EUA na eleição de novembro, Bob Dole, renunciou ontem aos cargos de senador e líder do seu partido no Congresso.
A reação ao anúncio que melhor resumiu seu impacto foi a do presidente Bill Clinton: "Você conseguiu nos pegar a todos de surpresa", disse ele a seu adversário, em telefonema duas horas antes do comunicado de Dole.
Esperava-se para ontem que Dole transferisse parte de suas atribuições como líder da oposição a outros senadores. O porta-voz da Casa Branca, sede do governo dos EUA, chegou a criticar essa suposta decisão de Dole.
"Ele quer comer o bolo e ficar com ele, ter as vantagens de líder da oposição e deixar as responsabilidades para os outros", disse Mike McCurry, de manhã. À tarde, o porta-voz se retratou.
Dole, 72, está no Senado há 27 anos e no Congresso há 35. Ao anunciar sua renúncia, disse, com visível emoção, que quase o levou às lágrimas: "Eu vou buscar a Presidência sem ter para onde voltar. Daqui, eu vou para a Casa Branca ou volto para minha casa".
Nos EUA, a lei eleitoral não exige que o ocupante de cargo público, mesmo no Poder Executivo, se desincompatibilize para disputar uma outra posição.
O mais recente caso de um candidato renunciar ao seu cargo para concorrer à Presidência aconteceu em 1844, quando Henry Clay, do Partido Liberal Conservador, deixou o Senado para disputar a Casa Branca com James Polk e perdeu.
A decisão de Dole está sendo interpretada como uma das poucas maneiras que lhe restavam para dar ânimo à sua campanha.
Ele está 20 pontos percentuais abaixo de Clinton nas pesquisas de intenção de voto e nenhuma de suas iniciativas recentes para estimular a candidatura deu certo.
Com sua decisão, Dole impede que se observe uma situação inédita na história do país: a disputa pela Presidência entre o chefe do Executivo e o líder da oposição e maioria no Legislativo.
O vice-presidente Albert Gore saudou ontem a iniciativa. A seu ver, o diálogo entre Casa Branca e Congresso daqui até novembro ficaria viciado pela campanha presidencial entre Clinton e Dole.
Mas o próprio Clinton talvez não tenha gostado tanto da decisão de Dole. Primeiro, porque o líder da oposição no Senado foi, com frequência, seu aliado para aprovar leis do interesse do governo.
Segundo, porque deixando seu posto no Legislativo, Dole afasta sua imagem da de um Congresso cada vez menos popular nos EUA.
A disputa pelo cargo de Dole começou ontem mesmo. Os principais aspirantes são o vice-líder Trent Lott, do Mississippi, e os senadores Don Nickles, de Oklahoma, e Thad Cochran, também do Mississippi.
A renúncia provoca também a necessidade de eleição suplementar no Estado de Kansas, que Dole tem representado. O mais provável sucessor de Dole é o deputadoo estadual Sam Browback.

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