São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996 |
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"Crash" é um pesadelo
AMIR LABAKI
Poderia chamar-se "sexo, carros e colisões". São 90 minutos de perversões sexuais ligadas a batidas de automóveis. Baseado num romance de J. G. Ballard ("Império do Sol"), tudo se desenvolve em clima de pesadelo sadomasoquista. Um envelhecido selo no pará-brisas de um automóvel, datado de 1997, remete ao futuro próximo. Não há maiores detalhes sobre tempo e espaço. Pouco importa. James Spader entra nessa espiral erótico-macabra após um acidente. Mata um homem e fere a esposa dele (Holly Hunter). A batida os desperta para um novo tipo de sexualidade. A mulher de Spader (Deborah Unger) não demora a entrar no jogo. Um fotógrafo obcecado pelo esporte se junta ao grupo. Sua especialidade é reencenar a todo risco acidentes que mataram celebridades. O carro passa a ser o afrodisíaco supremo -parado ou andando, inteiro ou, melhor ainda, semidestruído. Sendo entre adultos, vale tudo -promiscuidade, sexo grupal, homossexualismo masculino e feminino. Nada é explícito, mas a nudez é constante. "Crash" é um "Gêmeos - Mórbida Semelhança" sucinto e apimentado. Nada superou-o em radicalidade na competição. Seria uma Palma de Ouro ousada demais para este morno Cannes-96. Síndrome A síndrome do segundo filme condenou ontem outro concorrente: o belga Jaco van Dormael. "Le Huitième Jour" (O Oitavo Dia) parece extraído de uma das cenas de seu filme de estréia, "O Homem De Duas Vidas" (Toto, Le Heros). O novo filme reúne Georges, um jovem nascido com a síndrome de Down (Pascal Duquenne) a Harry (Daniel Autiel), um executivo de sucesso. Duquenne empresta ao filme uma verdade que nem mesmo as fraturas de roteiro conseguem suprimir. Daniel Autiel faz seu melhor, produzindo uma real dupla. (AL) Texto Anterior: Charutos; Cannes, 50; Pacto; Kaige Próximo Texto: Khaled prova que é 'rei do rai' em SP Índice |
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