São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996
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Jackie Chan impõe a violência ingênua

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Vindo de quem vem, sabemos de cara que o título "Arrebentando em Nova York" tem sentido literal. Se Jackie Chan, grande astro das artes marciais, vai a Nova York é porque terá vários problemas para resolver a tapa.
O segundo sentido do título não é menos importante. Embora tenha a marca das produções Chow (de Hong Kong), o filme estourou no "box office" dos EUA e virou o cartão de visitas de Jackie em Hollywood (como se sabe, os cinemas de Hong Kong e Taiwan preparam-se para desembarcar de mala e cuia nos EUA).
A história é a de Keung, rapaz que chega de Hong Kong e cai direto no Bronx, zona pobre da cidade, terra de gangues. Cenário a caráter para Chan exercitar o kung fu e o humor -suas marcas registradas.
O que temos daí por diante é de uma ingenuidade quase comovente. Keung é, de início, uma espécie de Quixote, às voltas com códigos que não domina.
Logo, porém, esse primeiro momento é superado. Começa uma série de lutas e perseguições. Lutas bem coreografadas e perseguições espetaculares, diga-se. Mas tudo tão impessoal que, ao final, os produtores introduziram um trailer, para demonstrar a veracidade das coisas (isto é: Jackie Chan não usou dublês).
A única coisa realmente interessante a ver, além da performance de Chan, é aquilo que diferencia "Arrebentando" de boa parte do cinema americano atual.
A violência existe, sim, mas é inocente, quase cândida, às vezes constrangedora. Do roteiro escolar à caracterização dos personagens, tudo ali transpira ingenuidade, e nunca se ostenta esse cinismo tão em voga, em que matar e comer sanduíche são atos com mais ou menos o mesmo peso.
Nesse sentido, é um produto que atingirá o público pré-adolescente e adolescente. Mas não é mais que isso: um produto.

Filme:Arrebentando em Nova York
Produção: 1995, 91 min.
Direção: Stanley Tung
Com: Jackie Chan, Françoise Yip
Quando: a partir de hoje nos cines Marabá, Liberty, Iguatemi 1 e circuito

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