São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996
Próximo Texto | Índice

Morre número 2 da Marinha dos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O chefe de operações navais da Marinha dos EUA, almirante Jeremy Mike Boorda, morreu ontem em Washington, com um tiro de revólver no peito, em caso de aparente suicídio.
Boorda, 57, era o mais graduado oficial da Marinha norte-americana e o primeiro recruta a chegar ao almirantado.
Ocupava seu cargo atual, o segundo na hierarquia da força, desde abril do ano retrasado.
O anúncio de sua morte foi feito pelo secretário da Marinha dos EUA, John Dalton, no Hospital Geral de Washington, para onde Boorda foi levado, já sem sinais vitais, às 14h locais (15h em Brasília).
Ele foi declarado morto pela equipe médica que o atendeu no hospital às 14h30.
O presidente Bill Clinton chamou Boorda de "um homem de extraordinária energia, dedicação e bom humor" ao iniciar cerimônia em que anunciou o virtual fim do uso de minas pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.
Clinton foi informado da morte de Boorda quando falava a estudantes na Universidade de Georgetown (Washington).
Um assessor se aproximou dele, colocou a mão sobre o microfone e lhe passou uma nota. O rosto do presidente ficou vermelho, seus olhos úmidos e ele balançou a cabeça diversas vezes.
Se for confirmado que Boorda atirou contra si mesmo intencionalmente, o seu terá sido o segundo suicídio de membros do governo Clinton.
Em julho de 1994, o assessor especial do presidente, Vincent Foster, se matou com arma de fogo num parque em Washington.
Rotina
Boorda trabalhou de manhã. Na hora do almoço foi para sua casa, onde aparentemente pegou o revólver calibre 38 de seu genro e atirou contra o peito.
Ele morava num conjunto para oficiais da Marinha e foi socorrido logo após o tiro ter sido ouvido por vizinhos.
Amigos e colegas dizem que Boorda estava no seu costumeiro bom espírito nos últimos dias.
Eles dizem não ter conhecimento de problemas de saúde ou familiares com Boorda. Não havia acusações administrativas contra o almirante.
Os principais problemas recentes na Marinha foram sucessivos acidentes de avião e denúncias de assédio sexual contra alguns oficiais de alta patente. Mas nenhum desses casos envolvia Boorda diretamente.
Otan
Antes de ter sido nomeado chefe de operações navais, Boorda foi o comandante das tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental) no sul da Europa e, nessa condição, responsável por ataques contra aviões dos sérvios na Bósnia que desobedeceram a proibição de vôos determinada pela Organização das Nações Unidas.
Clinton elogiou o trabalho de Boorda na Bósnia e disse que ele será lembrado pela "constante preocupação pelos homens e mulheres" das Forças Armadas.
A polícia de Washington foi encarregada de investigar o caso e até o final da tarde de ontem não havia divulgado nenhum comunicado oficial sobre ele.

Próximo Texto: Lampreia participa de encontro na OEA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.