São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Brasileiro cruza a fronteira para estudar

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TABATINGA

Todos os dias um grupo de aproximadamente 300 crianças brasileiras atravessa a fronteira para ir estudar na Colômbia. Elas saem de Tabatinga (a 1.110 km de Manaus) para assistir aulas em escolas públicas de Letícia, na Colômbia. As duas cidades são separadas por apenas uma rua.
O motivo: do lado colombiano o ensino é melhor. As escolas de Letícia são mais equipadas do que as de Tabatinga (AM), o nível dos professores é melhor, as crianças passam mais tempo na escola, e o prefeito investe mais em educação.
O governo colombiano não impõe restrições para a matrícula de alunos brasileiros e o período estudado em Letícia é reconhecido pelas escolas de Tabatinga.
Vídeo e teatro
Existem 14 escolas em Tabatinga, sendo 5 estaduais e 9 municipais. As cinco estaduais possuem, além das salas de aula, uma quadra esportiva cada. As municipais só têm salas de aula. Nenhuma delas tem biblioteca.
Já as dez escolas de Letícia têm bibliotecas com cerca de 5.000 volumes em média, duas ou três quadras esportivas cada, playgrounds, salas de TV e vídeo e até teatro, em alguns casos.
"As escolas de Letícia têm mais estrutura", diz o taxista Francisco Correia, 37, pai de dois filhos que estudam em Letícia: Jean Paulo, 10, e John Erik, 4.
Cerca de 90% dos professores de Letícia têm nível superior, com licenciatura, contra apenas 40%, nas escolas de Tabatinga.
Os professores licenciados também têm melhor remuneração na Colômbia. O menor salário, para os que têm licenciatura, é de US$ 528, enquanto em Tabatinga é de R$ 382,00.
As crianças também ficam mais tempo na escola quando estudam em Letícia. A jornada diária é de cinco horas -em Tabatinga é de três horas e meia-, e o primeiro grau é composto de nove anos, contra oito no lado brasileiro.
Redação de 30 linhas
O baixo nível nas escolas do lado brasileiro da fronteira é atestado pelo promotor Luís Tadeu Calderoni, que no ano passado deu aulas de português para o segundo grau em um colégio de Tabatinga.
"Os alunos não conseguiam nem mesmo escrever uma redação com 30 linhas", diz Calderoni.
Os gastos com educação, em cada lado, também ilustram a diferença. Em Tabatinga a prefeitura investiu em educação, no ano passado, cerca de R$ 1 milhão. Em Letícia, no mesmo período, a prefeitura aplicou aproximadamente US$ 3 milhões.

O repórter ANDRÉ MUGGIATI viajou à região a convite da Diocese do Alto Solimões (AM)

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