São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Sistema deve ficar mais transparente no mundo

DA REPORTAGEM LOCAL

Folha - Os bancos estão acostumados a tomar posições e correr riscos, não?
Hull - Sim, mas a questão real é que você não quer quebrar o banco, como fizeram com o Barings. Se queremos algum risco, devemos impor um limite de perdas. Esse critério deve ser definido. Não se deve manter os derivativos em segredo, num grupo fechado. Até recentemente, as pessoas podiam esconder suas ações por muito tempo nesses mercados.
Folha - Numa empresa não-financeira, os principais executivos geralmente não compreendem direito os derivativos, esbarram na complexidade desse mercado. Então, como eles podem impor controles sobre o que não dominam?
Hull - Esse problema não é só de empresas não-financeiras. Em muitos bancos, os principais executivos aprenderam a trabalhar muito antes de os derivativos existirem e têm dificuldade de entendê-los. A questão é fazer a pergunta correta, mesmo sem conhecer os detalhes. E a pergunta é: quanto perdemos, dado tais cenários.
Folha - Mesmo assim, eles terão de confiar nos relatórios.
Hull - Claro. Como em qualquer tipo de controle em organizações, deve haver dupla checagem.
Folha - Qual é o tamanho do mercado de derivativos?
Hull - Pelo menos US$ 10 trilhões, em Bolsas ou no mercado de balcão (entre empresas e bancos).
Folha - Tal magnitude não exige controle governamental?
Hull - Os reguladores têm sido ativos nesses controles, exigindo das instituições financeiras critérios de exposição, de capital em risco. As autoridades devem empurrar o mercado para certas direções, mas não definir exatamente as melhores práticas.
Folha - O Brasil tem a terceira maior Bolsa de derivativos do mundo, a BM&F, que tem apenas dez anos. Algum conselho?
Hull - Todo mundo é novo nesse mercado, não só no Brasil como nos EUA e na Europa. Podemos compará-lo com o mercado de seguros, de previdência privada. Derivativos são similares a seguros. Relativamente quantitativos, fáceis de mensurar os riscos. E, no entanto, não temos regras básicas. Parte do amadurecimento desse mercado virá com exigências maiores de qualificações.
Folha - O tradicional mercado segurador trabalha com estatísticas de longo prazo para definir seus riscos e preços. Dá para se acertar na mosca com os derivativos, criados há tão pouco tempo?
Hull - Sim. Num seguro de automóvel, a empresa sabe o comportamento dos motoristas por faixa etária, sexo, cidades onde moram etc. Nos mercados futuros e de opções, sabe-se o comportamento histórico dos ativos principais e suas consequências nos derivativos. Sabe-se o efeito de uma queda de US$ 5 numa ação da IBM numa opção de compra dessa ação. Isso também envolve, claro, uma matemática ardilosa.
Folha - É, portanto, mais perigoso que o seguro?
Hull - Eu diria mais especializado. Baseia-se em experiência.

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