São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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ALÉM DAS REFORMAS

A perda de popularidade do governo e a derrota por ele sofrida na emenda da Previdência criaram um ambiente político delicado. É natural e positivo o empenho do Executivo nas reformas do Estado, das quais depende em grande parte a consolidação da estabilidade econômica e, nesse sentido, o sucesso de sua gestão. Mas é preciso que o governo federal não descuide da administração do dia-a-dia, das políticas mais simples e de menos difícil implantação.
As reações à contenção de gastos e as tensões que daí decorrem não são exclusividade do Brasil. Foram a regra nos países que estabilizaram suas moedas após anos de inflação alta. Também eram previsíveis as resistências à reforma de um Estado no qual se incrustaram os mais diversos interesses e encastelaram-se políticos fisiológicos e corporações.
Nesse cenário, uma atuação do governo em duas frentes, que mantenha o empenho nas reformas visando ao longo prazo e adote políticas específicas com resultados mais imediatos, poderia conter a perda de prestígio. Afinal, nenhum país vive só de inflação baixa, nem da perspectiva abstrata de modernização e integração à economia mundial.
É justamente nesse ponto, porém, que a ação governamental mostra-se mais frágil. Foi insuficiente, até o presente, o desempenho oficial, seja do ponto de vista das prioridades definidas como compromisso de campanha ou de outras que a conjuntura colocasse em evidência.
Após a derrota nos destaques à emenda da Previdência, imposta por deputados do próprio PSDB e de partidos aliados, o Executivo acenou "endurecer" com relação às demandas particulares ou fisiológicas. Não é certo o efeito que tal postura possa ter sobre os resultados concretos das próximas votações no Congresso. Mas, se não for apenas um jogo de cena para reduzir o impacto público da derrota, uma nova atitude em relação às demandas mais duvidosas de diferentes parlamentares tende ao menos a contribuir para resgatar a imagem do governo federal junto à opinião pública.
A margem de manobra do Executivo certamente reduziu-se. Será preciso grande empenho e muita atenção para recuperá-la.

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