São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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MARIO VITOR SANTOS

Colonizado, o Brasil assimila sem nenhuma ponderação as "novas" modas
Um dos aspectos mais evidentes dessa marcha de empresários e trabalhadores a Brasília é o número de oportunistas abrigados sob as boas intenções de ambos os lados. Não há nenhuma novidade nisso, aliás.
Mais vale mais olhar para as reais dificuldades, comuns tanto aos empresários, alguns deles quebrados, que foram em jatos fretados e se abrigaram no hotel Nacional, como aos trabalhadores, desempregados, sindicalistas e outros, que acamparam em ônibus e comeram em "quentinhas".
Há uma enorme ansiedade, uma frenética atividade na selva real do mercado, com consequências maiores talvez do que as várias e frequentemente inócuas decisões de política econômica que vêm à luz todos os dias em Brasília.
As atenções talvez devessem estar nas páginas de negócios e administração dos jornais e nos seminários com espertos estrangeiros que vêm regiamente pagos desfilar novas roupagens para velhas teorias aos engravatados nos hotéis cinco estrelas, doidos para encontrar legitimação "teórica" para seus planos.
Eles vêm matar a sede de muitos executivos que decidem investimentos e contratações e que se sentem alarmados por dois motivos pequenos -a diminuição do mercado de grandes lucros e o acirramento da competição- e um grande -como aumentar seus ganhos pessoais.
A tendência mundial ao acirramento da competição é mais sentida no Brasil, onde a abertura para a entrada de produtos estrangeiros é relativamente recente, embora tenha sido sempre reivindicada da boca para fora. Tanto que já está sendo atenuada, o Planalto afinal cedendo às pressões nacionalistas do empresariado. Como já se disse, não há nada que os empresários de qualquer país temam mais e combatam mais do que a competição.
Em muitos casos e com frequência, o salário dos executivos sobe à medida que a massa salarial abaixo dele diminui em relação à produção. Essa regra, que antes era um princípio distante, agora tornou-se mandamento diário de vida ou morte.
É difícil saber o que tem sido mais daninho às condições de um país como o Brasil: os juros altos ou a reorganização selvagem a que têm sido arremessadas as empresas, com suas consequências arrasadoras sobre o mercado de trabalho.
Colonizado, o Brasil assimila sem nenhuma ponderação as "novas" modas -algumas até que jamais foram aplicadas com tanta avidez, prazer e falta de senso nos países em que foram supostamente geradas.
Para modificar essa situação, só uma mudança cultural, ao invés de mais uma "marcha" a Brasília que não muda nada.

E-mail: msantos@folha.com.br

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