São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996 |
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Desaparecidos de 'Explode Coração' fugiam da violência doméstica
ARMANDO ANTENORE
Pelo menos uma delas, o carioca D.S.M., de 11 anos, não quer retornar à família. Prefere continuar sob os cuidados da Associação Beneficente São Martinho, em Santa Tereza, região central do Rio. "Por aqui é melhor", acredita. "Fico livre das sovas." Na novela de Glória Perez, que a Globo exibiu entre os dias 6 de novembro e 4 de maio, o menino Gugu (Luiz Claudio Jr.) não desapareceu em função de pancadarias domésticas. Foi raptado por pés-de-chinelo que planejavam vendê-lo para um casal de estrangeiros. Casos assim também ocorrem longe das câmeras, mas com frequência relativamente pequena. Dos 70 menores encontrados, apenas cinco sofreram rapto para fins criminosos (leia quadro). O levantamento é de uma organização não-governamental, o Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. A entidade funciona no Rio desde 1987. Tem 12 funcionários e sobrevive graças a doações financeiras da Inglaterra -cerca de R$ 15 mil por mês. Foi o centro que coordenou a campanha de "Explode Coração". Forneceu à Globo as 400 fotos de desaparecidos que a novela exibiu entre março e maio. Por causa do levantamento, inédito no país, a emissora resolveu promover nova cruzada. Pretende, agora, prevenir a violência familiar contra crianças. A campanha, em fase de elaboração, deverá entrar no ar dentro de dois ou três meses. A Globo também decidiu continuar divulgando, a partir desta semana, fotos de meninos e meninas que sumiram de casa. Vai fazê-lo em módulos de 30 segundos, nos intervalos comerciais. Por trás das campanhas existem, claro, interesses de marketing. "Explode Coração" mostrou que, assumindo tarefas tidas tradicionalmente como do Estado, a Globo acaba por atrair a simpatia dos telespectadores -e do próprio Estado. Texto Anterior: CARTAS Próximo Texto: Por que as crianças somem Índice |
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