São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 1996
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Von Poser coloca rosas no caminho

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O artista plástico Paulo von Poser deve ter pensado muito na escritora e poeta Gertrude Stein durante os últimos oito anos, período em que vem arquitetando a mostra "Mar de Rosas", que inaugura amanhã no Espaço Ox.
Levando em conta a máxima absoluta de Stein, que diz que "uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa", Paulo fez crescer este seu jardim, em acrílico e nanquim.
São desenhos, telas, transparências, recortes em madeira e até vitrais e cerâmicas retratando a mais emblemática das flores: a rosa. "Sempre fico surpreso com a carga simbólica da rosa, que pode significar o coração de Maria no catolicismo, ser o símbolo da regeneração na cultura muçulmana e também ser oferecida a Iemanjá", disse o artista e ilustrador da Folha.
A história da mostra
Até o ano de 1988, as rosas apareciam esparsas no trabalho do artista. Naquele ano, Paulo realizou uma série de desenhos que serviu para o calendário do Museu de Arte Contemporânea.
No ano passado, porém, fez uma série de desenhos transparentes com bico de pena em papel pergaminho, que se tornaram o primeiro galho da roseira-exposição.
Apesar de o método de trabalho de uma exposição como "Mar de Rosas" ser basicamente a observação, Paulo se recusa a falar em reprodução. "O perigo de uma mostra assim é cair na estilização, quando eu bem sei que a rosa quer estar presente. Existem muitas rosas da minha cabeça, que fiz vendo ou imaginando pessoas", disse.
Paulo comprou suas rosas-modelos no Ceasa, às sextas-feiras, fotografou-as, fez xerox delas, dezenas, centenas... Paulo trabalhou muito no inverno, quando as rosas demoram mais para abrir.
Foi também desta minuciosa observação que se originaram as cerâmicas presentes na mostra, realizadas em parceria com Cecília Becker. Ao perceber a queda de uma pétala e seu repouso no chão, Paulo pensou nas cerâmicas, criadas a partir do próprio repouso de uma folha plana de argila sobre uma forma, sem necessitar da pressão de mãos e dedos. Apenas o repouso natural da lâmina de argila deu a forma à cerâmica.
"Esta mostra exigiu muito minha disciplina de observação. Com ela, percebi o que significa realmente a contemplação da arte na minha vida", disse. "Durante esses oito anos, ficou claro que o que me interessava era estar com a rosa. E a sequência de desenhos (expostos à direita no Espaço Ox) me deixou claro que a beleza não está nas rosas, mas em sua forma."
Detalhes
Alguns detalhes merecem atenção à parte em "Mar de Rosas". O primeiro são os convites. Confeccionados a partir de 200 desenhos originais e manipulados em uma máquina de xerox colorido, transformaram-se em 3.000 convites, todos diferentes. Guarde o seu!
Também é interessante notar a harmonia que a exposição ganhou com a inclusão de vitrais e cerâmicas. Com eles, a mostra completou um ciclo que se confunde com o próprio ciclo vital da rosa.
Mais que os desenhos e pinturas, são as rosas-vitrais de Paulo que precisam de luz para existir e que só vivem através dela. No outro extremo, suas rosas-cerâmicas nasceram da terra e apenas graças à atração da Terra. Cerâmicas, desenhos e vitrais se completam, como as três partes de um harmonioso ikebana.

Mostra: Mar de Rosas
Onde: Espaço Ox (r. Bastos Pereira, 363, telefones: (011) 887-4456, 887-2465 e 885-6505, Itaim)
Vernissage: amanhã, às 20h
Quando: até 17 de junho

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