São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
Próximo Texto | Índice

Pintor quer R$ 100 mi por quadro

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Um retrato do presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, vestido com o fardão da Academia Brasileira de Letras, está à venda por R$ 100 milhões.
É um preço maior que o do quadro "Retrato do Dr. Gachet", de Van Gogh, o mais caro da história. O preço foi fixado pelo pintor argentino Luis Héctor Pedrini, 51, há 31 anos radicado no Brasil, que o pintou nos últimos três anos.
"Valor não é o que importa. Os negócios mais altos no mercado internacional foram com quadros de Renoir e Van Gogh, todos europeus e acima de US$ 50 milhões. Resolvemos arredondar para R$ 100 milhões porque 50, 60, 70 ou 100 é a mesma coisa", diz o pintor, sem temer a comparação.
Pedrini afirma que com isso irá colocar o mercado de arte brasileiro ao mesmo nível do europeu. "Continuamos a depender da Europa para consagrar a arte que se faz aqui. É hora de mostrar que somos mestres e que nosso produto não é inferior ao deles", afirma.
Em anúncio de página inteira publicado domingo na Folha, no "Correio Brasiliense" e no "Estado de Minas", Madame Maria del Carmen Castro -colecionadora e mãe de Pedrini- informa que pretende vender o quadro por R$ 100 milhões e um outro, retratando Jesus, por R$ 1 milhão.
Cromo alemão
Os anúncios custaram cerca de R$ 80 mil. "Não podia fazer uma campanha simples. Tinha que ser elegante e exclusiva. É como sapato: para ser bom, tem de ser de cromo alemão", compara o pintor.
A decisão de colocar o quadro à venda foi tomada, segundo Pedrini, depois que Roberto Marinho decidiu não comprá-lo. Segundo Pedrini, há duas semanas, o retrato, que mede 72cm por 49cm, foi deixado com o presidente das Organizações Globo para avaliação.
Pedrini conta que recebeu uma ligação de um representante de Marinho informando que não havia interesse pela compra da obra, mas que, se ela fosse doada, seria aceita de bom grado.
"Eu não posso dar o quadro porque é uma obra muito cara em termos de custo de produção, tempo investido e talento", diz.
Desde a publicação do anúncio, no domingo, Pedrini afirma ter recebido vários faxes de interessados na compra. Um deles, segundo o pintor, seria representante do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus.
"Mas não quero negociar a obra com ele porque sabemos que é um franco opositor de Roberto Marinho, que é nosso amigo. Macedo não é a pessoa certa para ter este quadro", diz o pintor, garantindo que irá manter a recusa mesmo que Macedo concorde em pagar os R$ 100 milhões.
O valor cobrado pelo quadro e o gasto com os anúncios são, reconhece Pedrini, uma maneira de tornar seu nome mais conhecido no mercado de arte.
"É uma jogada comercial, por que não? É melhor que esteja vivo, com sucesso e dinheiro, para poder apoiar outros artistas, do que sumir, me perder nas tentativas, arrancar minhas orelhas e minha língua como fez Van Gogh. Tenho certeza do meu talento", diz.

Próximo Texto: "Obra irradia energia", diz
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.