São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
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Roupa suja

GILBERTO DIMENSTEIN

Depois de encontrar os armários revirados por assaltantes, mulheres tiveram uma estranha reação. Lavaram as roupas várias vezes antes de colocá-las de novo no corpo. Era como se estivessem infectadas.
Esse comportamento é apenas um detalhe detectado por psiquiatras da Faculdade de Medicina da Carolina do Norte, ao pesquisarem as consequências psicológicas nas vítimas de assaltos.
Homens e mulheres usaram a palavra "estupro" para definir o que sentiam e revelaram que nunca mais tiveram a mesma sensação de segurança. Um terço passou a ter insônia.
Não disponho de números, mas duvido que a reação seja diferente em qualquer cidade do Brasil, onde o Ministério da Justiça está montando um mapa da violência -e já aponta calamidades.
Os brasileiros se sentem andando com uma roupa suja.
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O mapa preliminar mostra que no bairro que leva o sugestivo nome de Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, bate-se recorde mundial de matança. Supera a cidade recordista no planeta: Cali, na Colômbia, devastada pela guerra das drogas.
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No bairro de Perdizes, o índice de homicídios não é alto, mas, em compensação, os moradores também vivem sitiados. Apenas de janeiro a fevereiro, foram roubados 1.204 carros.
O que significa que todos os habitantes já foram roubados ou conhecem alguém bem próximo que se tornou vítima.
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A experiência americana ensina que apenas dinheiro não resolve a violência; é necessário, punir, prevenir e reeducar.
Washington é a capital da nação mais poderosa do planeta. A renda média das famílias é de US$ 3.000 por mês.
Lá, entretanto, a taxa de homicídios é, comparando-se com a população, quase o dobro (repito, o dobro) do que a de São Paulo.
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José Serra desmoralizou uma disseminada previsão lançada quando assumiu o Ministério do Planejamento: assumiria o comando da política econômica, fritando Pedro Malan.
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Não fritou Malan, ficou duelando publicamente com burocratas de terceiro escalão do Ministério da Fazenda e, desgastado, sai acusado de não ter reduzido o déficit público.
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Mesmo assim, ele é um forte candidato à Prefeitura de São Paulo. Deve se beneficiar da reeleição a Luiza Erundina, do PT, e do messianismo evangélico de Francisco Rossi, do PDT.
Se ganhar, não houver reeleição para presidente e não cometer nenhum desastre, Serra tende a ser o principal nome do PSDB ao Palácio do Planalto.
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A disputa pela prefeitura tem a cara de São Paulo: um filho de imigrante italiano, uma nordestina, um negro e um evangélico da periferia. Quem ganhar, substitui um filho de imigrantes do Líbano.
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PS - Leitores reclamam que não encontram no Brasil CDs que cito na coluna. Dica: é possível comprar pela Internet, numa loja chamada Music Boulevard (http://www.musicblvd.com). É possível até ouvir um trecho on-line.
Aliás, suspeito que seja mais barato encomendar um CD brasileiro aqui do que ir a uma loja aí.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212) 873-1045

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