São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Chegada ao Rio vira "zona de guerra"

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Parece a Bósnia. Essa é a definição que a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello -conhecida por defender meninos de rua no caso da Candelária- dá para uma das zonas mais conflagradas do Rio, o Complexo da Maré, em Bonsucesso (zona norte).
Região que deveria ser um cartão de visita da cidade -já que se encontra no caminho dos que chegam ao Rio pelo aeroporto internacional-, a Maré virou cenário de tiroteios diários entre rivais.
Em meio ao fogo cruzado, o programa habitacional da Prefeitura do Rio "Morar sem Risco", para o assentamento de novos favelados na Maré, colocou 1.341 famílias em abrigos construídos em uma das áreas mais tensas do complexo.
Enquanto o prefeito César Maia (PFL) participa da conferência da ONU Habitat 2, na Turquia, onde defende seus projetos de urbanização, os novos moradores da Maré -há um mês no local- sofrem.
"Ali tem tiroteio todo dia, parece a Bósnia. A Maré é um exemplo de planejamento urbano", diz, em tom irônico, Yvonne, que tem um trabalho comunitário na área.
Primeiras
As primeiras favelas da Maré, às margens da baía de Guanabara, surgiram nos anos 50. Hoje, a prefeitura registra (dados de 91) a existência de dez favelas, com cerca de 63 mil moradores.
O complexo não pára de crescer. Yvonne reclama das autoridades públicas que, defensoras do que chama de "cultura da favela", colocam mais e mais comunidades juntas, "tudo empacotado".
Para Yvonne, essa concepção aumenta "o gueto, a segregação", favorecendo a ação de traficantes e a "guerra" entre rivais. Moradores informam que, nas três últimas semanas, nove pessoas foram mortas em duas favelas da Maré.
Uma visita da reportagem da Folha revelou moradores apavorados com o permanente conflito armado entre duas facções rivais do tráfico de drogas -o Comando Vermelho e o Terceiro Comando.
Alguns dos que mais sofrem são famílias removidas de áreas de risco que aguardam, em abrigos precários, a transferência para um terreno onde a prefeitura pretende inaugurar, até o final de 96, o programa "Morar sem Risco".
A fronteira entre as vilas do João e do Pinheiro é um dos principais palcos dessa "guerra".
Em dezembro de 95, após um jogo no Maracanã, torcedores do Santos foram baleados -um morreu- ao entrar ali de carro por engano.
Embora autoridades policiais afirmem que a "guerra" na Maré acabou após a prisão de algumas lideranças locais do tráfico, ainda ocorrem casos como o de um rapaz que mora em um abrigo do "Morar sem Risco".

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