São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Tiros criam legião de deficientes

DA SUCURSAL DO RIO

Pelo menos 50 pessoas que ficaram paraplégicas ou tetraplégicas, vítimas de tiroteios em favelas do Rio de Janeiro, estão sendo atendidas este ano pela Funlar (Fundação Municipal Lar Escola Francisco de Paula).
Fundação ligada à Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social, a Funlar calcula que, dos 508 cadastrados para o atendimento este ano, pelo menos 10% sejam as chamadas "vítimas do tráfico".
Apesar de atender seis dessas vítimas no Complexo da Maré, os agentes da Funlar interromperam o trabalho de campo na semana passada, pois foram aconselhados por moradores a não ir à região.
"O clima lá está muito bravo mesmo", disse a coordenadora do trabalho da Funlar na região, Catia Calixto, 25. Moradores informaram que, no sábado retrasado, traficantes assassinaram cinco pessoas na favela Nova Holanda.
A Funlar desenvolve um trabalho multidisciplinar e descentralizado de apoio à recuperação de portadores de deficiência física, que recebem atendimento psicológico e fisioterápico, entre outros serviços.
Na Maré, os paralíticos do tráfico até agora cadastradas são seis. "Mas tem muito mais, ainda estamos apurando", diz Catia. Assim como os ferimentos a bala, mortes violentas ocorrem em diferentes pontos do Complexo da Maré.
Na outra ponta da Maré, na região onde ficam a Vila do Pinheiro e a Vila do João, a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello garante que morreram quatro pessoas nas últimas semanas, supostamente por envolvimento com o tráfico.
Guerra
O comando do 22º BPM (Batalhão de Polícia Militar) nega que haja uma "guerra" entre traficantes. Um oficial -que pediu para não ser identificado- disse que a situação na Maré "melhorou 90%" depois da prisão de alguns líderes do tráfico.
Esse mesmo oficial, ao ser questionado sobre as supostas nove mortes em menos de um mês, reconheceu que, na semana passada, foi encontrado, na Vila Pinheiro, o corpo de uma mulher não-identificada crivado de balas.
Policiais foram informados de que um rapaz teria morrido com a mulher e que seu corpo teria sido jogado em um canal.
O oficial disse não poder "afiançar" a veracidade de algumas informações de moradores.

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