São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996 |
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Ameaça de guerra volta ao Oriente Médio
CLÓVIS ROSSI
Majdal Chams fica no Golã, as colinas na fronteira entre Síria e Israel, conquistadas por este último país na guerra de 1967 e cuja devolução é apontada pelo presidente sírio, Hafez al Assad, como precondição para a paz. O ressurgimento das bandeiras da Síria no Golã é o primeiro sinal de que o novo Oriente Médio que nasce após o triunfo de "Bibi", como é mais conhecido o premiê eleito, não será exatamente o Oriente Médio dos sonhos de Shimon Peres, o premiê derrotado. Este tem até um livro em que descreve ilimitadas possibilidades de cooperação entre os países da região, a partir de acordos de paz. No Oriente Médio de "Bibi", o que soam são tambores de guerra. "A eleição de Netanyahu é uma declaração de guerra ao povo palestino", ataca Razi Mohamed, líder do Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), o grupo terrorista responsável por boa parte dos ataques contra alvos judeus. As forças israelenses de segurança levam muito a sério frases ameaçadoras como a de Mohamed. Dizem dispor de indicações de que não apenas o Hamas, mas também o libanês Hizbollah (Partido de Deus) e a Jihad (Guerra Santa) Islâmica preparam-se para reiniciar os ataques. Tambores de guerra soam até entre palestinos moderados, como contra-ataque ao que consideram violação dos acordos de Oslo (que lançaram o processo de paz). Hisham Abdel Razek, uma dessas lideranças, comentou assim a afirmação de Rafael Eitan, um dos "falcões" do Likud, de que os acordos de Oslo serão revistos pelo novo governo: "Qualquer tentativa de mexer nos acordos de Oslo provocará um violento confronto entre os dois lados". No sul do Líbano, cenário da mais recente onda de violência na região, o Comando Norte de Israel informa que já ocorreram mais de 25 novos ataques, desde que se encerrou, há um mês, a operação Vinhas da Ira. Israel lançou uma ofensiva com esse nome em resposta aos contínuos bombardeios com foguetes executados pelo Hizbollah em direção ao norte israelense. A Vinhas da Ira provocou o êxodo de cerca de 1 milhão de libaneses do sul do país. O serviço de inteligência israelense diz que já voltaram todos e que eles incrementaram a cooperação com o Hizbollah, igualmente refeito dos ataques israelenses. Para fechar o círculo, aumenta também a presença de iranianos no sul do Líbano, pelo menos de acordo com os informes da inteligência israelense. Tudo isso dá especial significado às bandeiras sírias na aldeia de Majdal Chams. A paz com a Síria é indispensável para a paz também com o Líbano, hoje um virtual protetorado sírio. Mas a agenda de "Bibi" exclui devolver o Golã, o que, ao menos em tese, inviabiliza qualquer acordo de paz. LEIA MAIS sobre Israel às páginas 19 e 22 Próximo Texto: O consumismo é uma josta? Índice |
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