São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Herói louvou o admirável mundo novo

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Esqueça Spielberg. Quando sintonizar o seriado "Flash Gordon" -que o Multishow ressuscita a partir desta sexta-feira, à 1h-, não pense nos moderníssimos truques de "O Parque dos Dinossauros". Nem exija demais dos foguetes em forma de zepelim ou dos monstros com jeitão de calango nordestino.
Só assim você chegará perto de entender o que "Flash Gordon" significou para jovens e adultos de 50 anos atrás. Exibindo efeitos especiais que hoje beiram o singelo, os 40 episódios do seriado descortinaram aquilo que, à época, ainda se acreditava ser o "admirável mundo novo".
Foi em "Flash Gordon" que o grande público travou contato com a idéia de raio laser, de energia atômica, de células fotoelétricas e de aeronaves que decolam verticalmente.
Foi também por causa do seriado que muito marmanjo ousou esperar o impossível: um dia, todas as mulheres ostentariam as pernas como Dale Arden. A namorada do herói, loira e elegantérrima, costumava perambular de minissaia pelas galáxias.
Carlos Heitor Cony se lembra bem daquelas coxas. Em novembro de 93, escrevendo nesta Folha, lhes atribuiu "os primeiros impulsos na senda do pecado".
Rival
Flash Gordon já nasceu para brigar. Num domingo de 34, o "New York American Journal" inaugurou as tiras com o personagem de Alex Raymond.
Era a reação do King Features Syndicate à assombrosa fama de outro guerreiro espacial -Buck Rogers, cinco anos mais velho e protagonista das HQs distribuídas pelo Pulitzer Syndicate.
Rapidamente, o novato se impôs. E ganhou o cinema em 36, por iniciativa da Universal Pictures. Buster Crabbe, campeão olímpico de natação, encabeçava o elenco. Jean Rogers interpretava Dale Arden.
Os 40 capítulos da série, que o Multishow mostrará em cópias remasterizadas, custaram à Universal US$ 350 mil -ou 3,5 vezes mais do que se gastava com produções do gênero.
Cada episódio aborda sempre o mesmo assunto: as peripécias de Flash, de Dale e do sábio Zarkov contra o imperador Ming.
Pancadarias à parte, trata-se sobretudo de uma ficção antibélica, que crê na ciência como instrumento da paz. Não é pouco para uma série que surgiu sob a sombra ascendente do nazismo.

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