São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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Moeda forte com emprego forte

CÂNDIDO VACCAREZZA

FHC foi eleito com base na estabilização monetária, sustentado pela maior frente política articulada dos últimos anos. A economia, mistificada num único ponto, o real, foi decisiva para a definição da eleição de 94. Passados dois anos, o efeito prestidigitador da nova moeda ainda persiste, porém bem mais enfraquecido. A verdadeira economia do governo FHC é uma tragédia para o país.
A política neoliberal em curso coloca em risco o futuro do Brasil como nação. Esse é um modelo de desenvolvimento econômico, de inserção subordinada na globalização, que sucateia o parque industrial nacional e o Estado, provocando também o aumento da miséria e comprometendo as perspectivas do nosso povo.
Nunca tantas empresas faliram ou foram vendidas no país para empresas estrangeiras. A política perversa de promoção da recessão, combinada com os juros mais altos do mundo, o arrocho salarial, o desemprego e a desarticulação das políticas sociais, mostra uma das faces do governo. A outra é a defesa intransigente dos interesses dos banqueiros. O Proer e as medidas que salvaram o Nacional e o Econômico são apenas exemplos da agilidade do governo quando determinados interesses estão em jogo.
O governo tem falado das reformas. Apesar de contar com quase três quintos do Congresso na sua base de sustentação e de ter abusado do fisiologismo, não consegue efetivá-las, pois o que interessa é a política imediatista das privatizações e dos juros altos. No fundo, FHC e seu governo não têm um projeto nacional para o Brasil. Apenas cumprem o receituário neoliberal.
É certo que uma eleição municipal chamará para o centro das discussões o programa de governo para cada cidade. Porém nesta eleição, quando o governo já anunciou que uma das suas bandeiras será a estabilização -depois de ter desestabilizado milhares de prefeituras com a sua política econômica-, todos terão que se referir, mesmo não querendo, à economia nacional.
A mais remota cidade também foi atingida pela política de desmonte da agricultura familiar do governo FHC. E as metrópoles serão palcos do debate nacional combinado com os projetos locais. Desta vez, o jogo eleitoral será diferente.
No plano municipal, o PT já mostrou que governa bem. Tem propostas reconhecidas até internacionalmente por sua excelência. Os programas de renda mínima e de bolsa-escola, de orçamento participativo e a inversão de prioridades são marcas do modo petista de governar. Apesar de o PT governar pouco mais de 50 cidades, 40% de todas as experiências nacionais que foram indicadas pelo próprio governo para a conferência da ONU sobre assentamentos humanos, Habitat 2, em Istambul, são petistas.
No plano nacional, todos queremos a estabilização da moeda. Porém a oposição quer mais. Quer o desenvolvimento do país com distribuição de renda, quer mais e melhores empregos, quer reforma agrária. Quer também reformas da Previdência e tributária, diferentes das do governo. Por tudo isso, a política econômica do governo federal será decisiva nessas eleições.

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