São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Falida, Xapuri gira R$ 64 mi em um mês

SERGIO TORRES
DO ENVIADO ESPECIAL

Terra do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988, a cidade de Xapuri, no Acre, não tem nada que indique que por suas duas agências bancárias (três até o fim do ano passado) estejam passando quantias milionárias -R$ 58 milhões em março de 1995.
A prefeitura está semifalida, os 500 servidores municipais não são pagos há quatro meses e 70% dos 10.700 habitantes recebem menos de um salário mínimo por mês.
Xapuri não tem indústrias. Sua economia se baseia na decadente extração de látex de seringais para a fabricação de borracha e em uma pouco expressiva criação de gado.
"Não existe mais nada por aqui. Nem borracha tem mais. O município faliu", diz o prefeito José da Silva Cunha, 47. Para evitar os miseráveis que cercam seu gabinete pedindo emprego ou comida, Cunha evita despachar na prefeitura.
Fica em casa a maior parte do tempo e, quando precisa assinar alguma coisa, despacha na tesouraria, a 200 m da prefeitura.
No ano passado, os seringais de Xapuri produziram 120 toneladas de borracha, vendidas aos atravessadores por R$ 1 o quilo. É menos do que o produzida há dez anos, segundo dados da prefeitura.
Fazendas
As fazendas de criação de gado estão semidesativadas. O rebanho é avaliado em 70 mil cabeças, mesmo número de oito anos atrás.
A arrecadação municipal mensal varia entre R$ 28 mil e R$ 30 mil. Esta receita não cobre a folha de pagamento, de cerca de R$ 60 mil. O endividamento da prefeitura soma cerca de R$ 250 mil.
Enquanto isso, as agências do Banacre (Banco do Estado do Acre) e do Basa (Banco da Amazônia S/A) registram depósitos de grandes valores.
"A gente aqui não sabe de onde vem este dinheiro, não", afirma o prefeito de Xapuri.
As gerências das agências bancárias da cidade não quiseram falar sobre os depósitos, sob a alegação de que a movimentação é uma questão sigilosa.
(ST)

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