São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Desinternação de preso é difícil

DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto Peukert, 29, pode entrar no programa de desinternação do Manicômio Judiciário de Franco da Rocha. Ele matou os pais e os três irmãos a tiros em 1985.
Na época, Peukert não demonstrou arrependimento pelo crime. Após ficar sete anos na Casa de Custódia de Taubaté, ele está há três anos no manicômio.
Aos poucos, segundo os médicos, a lembrança do crime está se tornando dolorosa para Peukert. Ele tem planos para o futuro. Pretende cursar uma faculdade.
Peukert não dá entrevistas. Onze anos depois do crime, ele ainda é visitado por um tio, que acompanha seu tratamento.
"Estamos tentando prepará-lo para sair daqui. Não sabemos quanto tempo irá levar", disse o psiquiatra Carlos Eduardo Garcia, diretor de perícias do manicômio.
O programa de desinternação progressiva foi implantado por Garcia e pela diretora do manicômio, Odete Maria Vieira Lanzotti.
Para o psiquiatra Rubens de Campos Filho, do Centro de Estudos e Pesquisas Karl Kleist, não há nada que impeça que um paciente possa ter sua saída preparada.
Cura
"Psicopatas, esquizofrênicos delirantes com antecedentes de violência e os que têm psicoses alucinatórias não devem ser soltos", diz Campos Filho.
Essa também e a opinião do psiquiatra Guido Palomba, que considera irrecuperáveis esses pacientes. "Um caso clássico é o do Chico Picadinho", diz Palomba.
Em 1966, Chico foi condenado por matar e esquartejar uma prostituta em São Paulo. Solto em 1976, voltou a cometer o mesmo crime.
Campos trabalhou no manicômio entre 1978 e 1982. "O Chico era nosso garçom. É inteligente e bem articulado, mas um psicopata. Em liberdade, pode matar", diz.
Segundo a diretora do manicômio, dizer que um paciente nunca poderá ser libertado é o mesmo que desistir de curá-lo.
"Eventualmente, pacientes com transtorno de personalidade anti-social (psicopatas) podem apresentar comportamento social adequado", disse o psiquiatra Renato Luiz Marchetti, 39, da equipe de epilepsia do Hospital das Clínicas.

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