São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Plano Real 'envelhece' índices de preços

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Os índices de inflação envelheceram e se tornaram uma medida imperfeita da evolução dos preços, admitem os próprios economistas que lidam com essas pesquisas.
A abertura econômica, que começou no início da década, e o Plano Real permitiram a entrada de novos produtos e novos métodos de comercialização no país. Os índices não estão conseguindo captar essas evoluções.
Os índices, principalmente os que não permitem substituições de produtos, estão superestimando a inflação, diz Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe.
As Pesquisas de Orçamento Familiar (POFs), das quais são extraídos os pesos de cada bem ou serviço no orçamento doméstico, precisam ser rejuvenescidas.
As POFs são um retrato do momento econômico em que foram realizadas, lembra Heron.
"Quanto mais antigas, mais ficam descoladas da realidade", concorda José Maurício Soares, supervisor do ICV do Dieese.
Por isso, todas as instituições que pesquisam preços estão atualizando suas POFs.
Para Simon Schwartzman, presidente do IBGE, os índices devem ser ajustados num processo contínuo porque pequenas variações aparecem muito mais hoje.
Dieese sai na frente
O Dieese, o índice que mais se "descolou" dos demais em 95 -com inflação de 46,2%, contra 23,2% da Fipe-, saiu na frente. Nos próximos meses, já estará divulgando as novas taxas de custo de vida dos paulistanos com base em POF que já contempla as mudanças trazidas pelo Plano Real.
A pesquisa, que durou um ano, foi iniciada em dezembro de 94 e substitui a atual, de 1982.
Soares cita, por exemplo, a pouca participação do metrô na pesquisa anterior.
A Fipe, com uma das POFs mais atualizadas, já se prepara para nova pesquisa. A atual, de 1990/92, está ficando desatualizada.
Importados fora
Juarez Rizzieri, presidente da Fipe, diz que um dos maiores pecados de seu índice é não captar a entrada dos produtos importados.
Marcelo Allain, diretor de análise econômica do banco BMC, diz que esses produtos importados são responsáveis pelo "descolamento" dos índices de preços no atacado (caso do IPA da FGV) dos de preços ao consumidor.
Os preços industriais sofreram a competição dos importados. Os tipicamente de custo de vida foram pressionados por serviços, sem concorrência externa.
O IBGE também está refazendo a POF para seus índices. A pesquisa, iniciada em setembro de 1995, substitui a anterior, de 1987.
Críticas
Heron do Carmo destaca, ainda, outro problema dos índices. A estrutura de peso -ou seja, o quanto cada item pesa nos gastos totais dos cidadãos- é anterior ao Real.
Com a abertura econômica, os consumidores ganharam novas vantagens não só em preços, mas também na qualidade.
Gil Pace, diretor da GPC Consultores Associados Ltda., critica a forma de apuração dos índices de preços no atacado. As informações do setor não são coletadas, mas enviadas pelas próprias empresas.

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