São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
Próximo Texto | Índice

Ieltsin usa máquina pública e 'vira o jogo'

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O presidente russo, Boris Ieltsin, em quatro meses de campanha para a eleição presidencial do próximo domingo, já conseguiu ultrapassar o seu principal adversário, o neocomunista Guennadi Ziuganov, na maioria das pesquisas.
A recuperação vem principalmente com uma intensa propaganda na TV e uso da "máquina eleitoral" do governo.
A tendência de recuperação de Ieltsin, 65, foi confirmada quando o presidente conseguiu, semana passada, empatar com Ziuganov, 51, na única pesquisa que ainda punha o neocomunista à frente.
O Instituto de Sociologia do Parlamentarismo (ISP), uma organização independente, deu 36% a cada um dos candidatos. Em abril, a pesquisa apontava 47% das intenções de voto para Ziuganov e 20% para Ieltsin.
Sondagem da emissora de TV norte-americana CNN e do "Moscow Times", jornal moscovita em inglês, mostra que Ieltsin conta com 32,6% das intenções de voto, e Ziuganov, com 19,7%.
No entanto pesquisas eleitorais na Rússia devem ser analisadas com cuidado. Elas não conseguiram identificar fenômenos eleitorais como a vitória do neofascista Vladimir Jirinovski nas eleições parlamentares de 1993.
Os próprios institutos de pesquisa alertam para as limitações de seu trabalho. Indicam dificuldade para atingir eleitorado russo no interior do país e admitem a falta de tradição de sondagens, pois a Rússia pós-soviética tem eleições livres apenas desde 1991.
Os analistas também destacam a "instabilidade" do eleitor russo, além do chamado "voto envergonhado". Muitos eleitores teriam dificuldades para assumir, por exemplo, que votam em Jirinovski ou em Ziuganov, com medo de represálias das autoridades.
Para reverter a situação que em fevereiro indicava uma derrota, Ieltsin conta com as principais emissoras de TV, controladas pelo governo, e com apoio dos principais jornais, que temem volta da censura com os neocomunistas no poder. Também ajudaram a aumentar a popularidade do presidente as negociações de paz na separatista Tchetchênia.
"A mudança (nas pesquisas) é impressionante", opina Nugzar Betaneli, diretor do ISP. "A recuperação de Ieltsin é enorme."
O comando da campanha de Ziuganov rejeita os resultados das pesquisas. Diz que suas sondagens o mantêm na dianteira.
Ieltsinistas e neocomunistas concordam num ponto: um segundo turno, em julho, é inevitável. Nenhum candidato deverá conseguir mais de 50% dos votos.
A pesquisa do ISP coloca o liberal Grigori Iavlinski em terceiro, com 10% das intenções de voto. Jirinovski não consegue mais monopolizar os votos de protesto contra Ieltsin e aparece em quarto.
Se a história reserva ao candidato Mikhail Gorbatchov um "lugar de honra" por ter acabado com a Guerra Fria, o mesmo não acontece com as pesquisas. O último presidente da desaparecida URSS amarga apenas 1% das intenções.
Em casa, Gorbatchov é acusado de mergulhar o país na crise econômica e social, além começar o enfraquecimento do "império".
O jornalista Jaime Spitzcovsky foi correspondente da Folha em Moscou entre 1990 e 1994

LEIA MAIS sobre a eleição presidencial russa na pág. 1-26

Próximo Texto: Computador faz mágica nas ruas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.