São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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O arsenal de Serra

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - A parte mais visível de um pleito é a propaganda eleitoral. Para vencer, é preciso ser bom de TV.
Mas o desempenho diante das câmeras é apenas parte do jogo. O grosso da partida desenrola-se no submundo da campanha.
Aliás, é na zona de penumbra que costumam ser erigidas as candidaturas vitoriosas. Ali, sob sombras que confundem a visão do eleitor, funcionam as principais engrenagens da eleição.
Em São Paulo, todos os ventos sopram na direção a José Serra. Forma-se em torno do candidato uma santa aliança da máquina estatal com o dinheiro privado.
Serra não tem uma, mas duas máquinas públicas do seu lado: a federal e a estadual. Quanto ao aspecto monetário, há nítida afinidade entre o candidato e o baronato da Fiesp.
Brasília pôs-se a trabalhar antes mesmo que Serra virasse ex-ministro. Em maio, ainda chefe da pasta do Planejamento, Serra veio a São Paulo. Em solenidade pública, liberou R$ 527 milhões para obras do metrô paulista.
"Um investimento prioritário para o trabalhador", comemorou Mário Covas. "O primeiro programa de pleno emprego", Serra fez coro. Meses antes, havia liberado verbas para obras de saneamento básico.
Perguntou-se sobre a eleição. E Serra: "Isso não é campanha, é o governo trabalhando". O melhor estava por vir: "Definitivamente, não sou candidato. Nunca fui".
Semana passada, já candidato, Serra deu entrevista à Folha. Falou sobre desemprego, uma das vidraças de sua candidatura: "(...) Nós organizamos um programa de empregos que terá, em São Paulo, duas traduções imediatas: a retomada das obras do metrô (...) e obras de saneamento (...)".
O que era "governo trabalhando" virou "candidato faturando". Como se vê, o tucanato não mede esforços para levar a eleição em São Paulo. Será preciso mais do que sorrisos e promessas na TV para deter Serra.

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