São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 1996 |
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Robert Rauschenberg defende arte engajada
MAURICIO STYCER
"O artista pode ver o seu trabalho de forma abstrata ou realista, mas não pode negar a existência dos problemas do mundo", afirmou ele ontem à Folha, em Istambul. Rauschenberg doou à ONU um painel gigante chamado "Clan Destiny", de 1,5 por 2,4 metros, feito especialmente para a Habitat 2, a Conferência de Assentamentos Humanos que se realiza em Istambul. A renda obtida com a venda de reproduções assinadas e pôsteres do painel será revertida para as Nações Unidas. Há quatro anos, Rauschenberg criou para a ONU uma tela alusiva à Eco-92, intitulada "Last Turn, Your Turn". A renda obtida com a reprodução do trabalho chegou a US$ 1 milhão, segundo Leslie Hoffman, da Earth Pledge Foundation, a ONG que envolveu Rauschenberg no projeto. Comunicação "Minha voz está nas minhas mãos. Acredito que arte é comunicação. Mas isso não é uma idéia nova", disse Rauschenberg aos jornalistas que o esperavam ontem, no plenário oficial da conferência, onde "Clan Destiny" está exposta com destaque, no lobby principal. "Meu trabalho para a ONU não é um sacrifício. É a minha maneira de dizer que ao menos tentei algo para melhorar o mundo. Sei que isso é uma forma de egoísmo", disse. Aos 71 anos, Rauschenberg se declara um otimista. "Apesar das claras indicações de que o homem é capaz de fazer muitas coisas ruins, sou um otimista", diz. Ao utilizar a pintura para fazer política, Rauschenberg acha que está produzindo uma arte à altura do seu tempo. "Estou feliz de ter encontrado uma maneira de catalisar as minhas frustrações com os caminhos do mundo. O trabalho artístico, mesmo que pequeno, faz alguma diferença. Por isso sou otimista", diz. Amigo de Jasper Johns e John Cage e integrante do movimento pop, Rauschenberg se notabilizou pelo uso em seus trabalhos de técnicas combinadas, como pintura, colagens e objetos. Dificuldade O artista classificou "Clan Destiny" como uma das encomendas mais difíceis que já realizou. "Essa conferência lida com todos os assuntos: habitação, religião, comida, mulher... Não foi fácil". Wally N'Dow, secretário-geral da Habitat 2, lembrou que Rauschenberg é um militante pacifista, ao agradecer a doação da tela para a ONU. "Robert Rauschenberg é um exemplo mundial, um gigante. Ele não acredita na separação de raças e povos. Está totalmente engajado na melhoria do mundo". "Assim você acaba com a minha reputação", respondeu o artista. Texto Anterior: Namoro não requer declarações, nem as de amor Próximo Texto: Dee Dee Bridgewater quer fazer disco de música brasileira Índice |
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