São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Tapuias são lanterninhas na arte de fiscalizar

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A tragédia de Osasco fez com que um novo termo fosse incorporado ao binômio impunidade e corrupção, essa duplinha de arromba que predomina nos debates sobre questões nacionais. Trata-se da expressão falta de fiscalização.
Claro, somos um país latino, africano, indígena, folião, neném, em ebulição, use-se a desculpa que for. Temos, portanto, aversão inata a regras, no estilo teutônico ou nipônico, que ameacem nos robotizar ou que nos tolham de nossa charmosa malemolência.
Mas episódios como o do shopping de Osasco, da clínica Santa Genoveva, de Caruaru e até mesmo o acidente que matou os Mamonas estão aí para esfregar na nossa cara uma realidade cruel: somos ruins à beça na arte da fiscalização.
A saber: na maioria dos países ditos civilizados, um bujão de gás tem vida útil de 10 anos. No Brasil, a vida útil do mesmo tipo de bujão é de 40 anos.
Existem no país cerca de 10 milhões de bujões de gás funcionando em condições precárias. A rádio CBN está aí que não me deixa mentir. Na quarta informou que devido a problemas de vedação e furos no casco, apurou-se que cerca de dez botijões de gás explodem por dia na capital paulista.
Ou seja, dez granadas de mão explodem dentro das casas das pessoas todos os dias do ano. Imagino que nem mesmo em Israel a média de explosões seja tão alta.
Outros tantos apetrechos de uso corriqueiro colocam em risco a integridade física dos brazucas.
Palitos de fósforo quebram, saltam, explodem e causam todo tipo de acidente. Remédios são utilizados de maneira incorreta por culpa de bulas mal escritas e contendo erros.
Kombis, variants e brasílias -nada contra a Volkswagen- caindo aos pedaços circulam pelas ruas sem o menor constrangimento.
Ônibus e caminhões cuspindo fumaça não inspiram nem mesmo um olhar torto por parte dos transeuntes.
Faz parte do dia-a-dia do passivo tapuia aturar as chimbicas velhas que andam por aí sem condições de segurança e encher os pulmões com o monóxido de carbono expelido por veículos mal regulados.
É coisa tão natural que costumo causar indignação nos passageiros do meu carro, toda vez que abro a janela e mando um merecido gesto obsceno para o motorista da lata velha.

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