São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Deputados da Colômbia absolvem Samper

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Colômbia, Ernesto Samper, foi absolvido da acusação de ligação com o cartel de Cali. Os deputados decidiram, por 111 votos a 43, que não havia motivos para afastá-lo do cargo.
A votação, que terminou pouco antes da meia-noite de anteontem (2h de ontem em Brasília) marcou o fim de duas semanas de debates entre os parlamentares.
A investigação começou quando ex-membros da campanha eleitoral que levou Samper ao governo, em 1994, acusaram-no de ter concordado em receber financiamento dos traficantes de cocaína.
"O que aconteceu aqui foi a farsa do século", protestou o senador Jaime Arias, líder do Partido Conservador, de oposição.
"Foi uma prova de que as instituições democráticas podem funcionar", afirmou Luis Guillermo Nieto Roa, advogado de Samper.
Na verdade, o que aconteceu foi uma demonstração de que Samper (pronuncia-se sampér), 46, conseguiu manter coeso o Partido Liberal, e ainda obteve apoio de deputados de partidos de oposição.
Por isso, a absolvição não surpreendeu. Os deputados votaram seguindo a recomendação da Comissão de Acusações (espécie de CPI que investigou Samper).
A comissão -a exemplo do argumento usado por Samper nos últimos meses- dizia que a entrada de US$ 6 milhões do cartel de Cali era provável, mas ela teria acontecido sem o conhecimento do então candidato. A investigação contra Juan Manuel Avella, gerente da campanha, continua.
Além das acusações criminais de enriquecimento ilícito, falsificação de documentos, fraude processual e acobertamento de fatos, a votação na Câmara incluía também um suposto crime político de Samper, a "indignidade por má conduta".
Apesar da vitória, Samper sai do processo com um país extremamente dividido e uma oposição muito hostil. Por isso, ele anunciou, horas depois do veredicto, que formaria um governo de união nacional, com a possível inclusão da oposição no gabinete.
O presidente planejava para a noite de ontem um pronunciamento em cadeia nacional, de cerca de uma hora, para determinar as mudanças em seu governo.
Empresários
"Nem o veredicto da Câmara nem caras novas no governo solucionam a crise", disse Luis Carlos Villegar, presidente da Associação Nacional das Indústrias. A atual crise é considerada a mais grave do século no país.
Além do empresariado nacional, a igreja e grupos sindicais se manifestaram abertamente a favor do impeachment, nos últimos meses.
Para que ele tivesse ocorrido, a Câmara precisaria ter autorizado o processo, anteontem, e caberia então ao Senado julgar os crimes.
O processo é semelhante àquele por que passou, em 1992, o brasileiro Fernando Collor de Mello.
A votação foi confusa. Houve pelo menos dez pedidos de anulação da votação, que alegavam irregularidades durante o processo. Todos eles foram negados.
Os pedidos faziam referência a provas e declarações de testemunhas que implicavam Samper e que, segundo os oposicionistas, desapareceram dos autos. A fase final do processo durou quase cem horas, em 14 sessões. Houve intervenções de 78 parlamentares.
Investigação
Após a sessão, deputados de oposição disseram que a decisão era tão absurda, devido à quantidade de provas contra o presidente, que constituía prevaricação (crime do funcionário público que deixa de cumprir a sua função) por parte dos deputados. A Corte Suprema da Colômbia agora investiga a Comissão de Acusações.

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