São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Tubarão leva Jorge Campos a trocar surfe por futebol

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os tubarões do mar do Acapulco fizeram Jorge Campos desistir do surfe, mas o astro mexicano acabou convertendo a pequena área de goleiro em sua praia.
"Meu pai não queria que entrasse no mar, porque tinha medo dos tubarões. Comecei no futebol profissional e quis transportar tudo isso para minha roupas de goleiro", disse em entrevista à Folha.
Com seus uniformes coloridos, Campos jogou a Copa dos EUA e, agora, está com sua vaga olímpica praticamente garantida, como um dos três jogadores acima de 23 anos na equipe mexicana.
Desde 1988, Campos desenha seus agasalhos, utilizando figuras geométricas e inspiração asteca em tons de rosa, verde e amarelo.
A atitude expansiva não se resume só à roupa: Campos não esconde seus dotes de atacante e, vez por outra, vai à área adversária.
Folha - Antes do futebol, você surfava. Como era ser surfista?
Jorge Campos - Sempre gostei de surfar. Um irmão maior praticava, e fiquei muito entusiasmado. Na verdade, surfava todos os dias, até os 17 anos. Enquanto estive em Acapulco, não parei de praticar.
Folha - Mas você chegou a participar de alguma competição?
Campos - Nunca. Meu pai não queria que entrasse no mar, porque tinha muito medo dos tubarões. Mas sempre surfei escondido, sem meu pai saber.
Folha - Como era o Jorge Campos surfista?
Campos - Eu gostava de me divertir dentro da onda e, depois, sair voando sobre ela. Mas as proibições do meu pai me distanciaram das competições. Eu não tinha o apoio da família.
Comecei no futebol profissional e tive de adotar o surfe apenas como hobbie. Hoje, se me dão uma prancha, consigo ficar em pé.
Folha - Seu pai queria que você fosse jogador de futebol?
Campos - Minha história com o futebol surgiu depois. Eu era um esportista de praia, jogava vôlei, tênis e futebol na areia.
Folha - Você é classificado como um jogador descontraído. Isso você trouxe dessa vida praiana?
Campos - Os mexicanos da costa e, principalmente, de Acapulco gostam de se divertir e desfrutar a vida. Isso me ajudou a ir à frente no futebol, sendo a mesma pessoa dentro e fora de campo.
Quero jogar, me divertir e sair satisfeito de campo. Eu encaro o jogo como uma diversão, como o próprio nome diz: é um jogo. Muitos me criticam, dizendo que não levo a sério o futebol. Não é preciso fazer cara de emburrado ou raivoso para ser um profissional.
Sempre entro em campo para me divertir, como se fosse o último jogo da minha vida.
Folha - De onde tirou esse seu gosto pelas cores berrantes de seus uniformes de goleiro?
Campos - Do surfe e da praia. Em Acapulco, faz muito calor, todos andam de bermudas e camisetas com muitas cores. Eu quis transportar tudo isso para minha roupas de goleiro e não perder essa minha forma de ser.
Folha - Existe alguma cor que seja a tua preferida?
Campos - Eu gosto do rosa bem intenso, que, no meu país, se chama rosa mexicano. Depois, vêm o amarelo e o verde-limão. Na verdade, acho que os brasileiros também gostam desse tipo de cores.
Folha - Como vai ser o Jorge Campos na Olimpíada, se sua vaga na seleção for confirmada?
Campos - Andam dizendo que vão me chamar. Ainda não está muito claro. Para mim, é um sonho. Eu nunca estive em uma Olimpíada e queria ir para esta.
Folha - A nova geração do futebol mexicano, que vai a Atlanta, é melhor do que a da Copa dos EUA?
Campos - Há grandes valores que poderiam sair da seleção olímpica e ir direto para a equipe principal. O México está crescendo muito no futebol.
Folha - Que jogador destacaria da equipe olímpica do México?
Campos - Sempre se fala dos atacantes e dos meias, mas o melhor dos novos mexicanos está na defesa. Claudio Soares é um zagueiro central de muita qualidade. No meio, temos Lara e Villa.
Folha - Quem fica com as medalhas no futebol de Atlanta?
Campos - Eu acredito que o México fica com uma medalha.
Os favoritos continuam sendo os grandes times: Brasil, Argentina, Itália e o México, que está, ao meu ver, entre as mais fortes equipes.
Folha - Como foi sua mudança para os Estados Unidos, para jogar na Major League Soccer?
Campos - Por sorte, meu time está invicto. Terminando a liga aqui, eu tenho de regressar ao meu time mexicano, o Atlante. A cultura é muito diferente, mas eu falo um pouco de inglês e me viro.
Folha - A liga norte-americana foi criada para ser equilibrada e na primeira temporada apresenta um time nitidamente melhor. Qual é o segredo do sucesso do LA Galaxy?
Campos - Os 18 jogadores do time se dão bem dentro e fora de campo. Há muita comunicação e vontade de estar na frente.
O campeonato é equilibrado. O que houve foi que alguns times tropeçaram e perderam pontos. Vencemos todas, mas a derrota pode surgir a qualquer momento.
Folha - Você sempre avança no campo do adversário. É algo que ficou da época que era atacante?
Campos - Pode ser. Nas equipes inferiores, alternei as posições de atacante e goleiro. Eu treinava com meus irmãos maiores: Antonio era goleiro, e Álvaro, centroavante.
Assim, quando treinava com Álvaro, eu jogava de goleiro. Com o outro irmão, era o contrário.
Eles receberam proposta para ser profissionais, mas não aceitaram.

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