São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
Próximo Texto | Índice

Dividida, Rússia escolhe novo presidente

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

A Rússia realiza hoje o primeiro turno da sua eleição presidencial, dividida principalmente entre dois candidatos. O presidente Boris Ieltsin busca a reeleição escorado em promessas de continuar as reformas pró-capitalismo com países ocidentais como modelo, enquanto o neocomunista Guennadi Ziuganov agita a bandeira do nacionalismo russo e a da volta de maior intervenção estatal na economia.
A maioria das pesquisas aponta Ieltsin como favorito. Mas sondagem divulgada sexta-feira deu a Ziuganov 35,6% das intenções de voto, contra 32,7% de Ieltsin.
A pesquisa, feita pelo Instituto da Sociologia do Parlamentarismo, uma organização independente, tem margem de erro de três pontos percentuais.
Ziuganov, candidato do bloco popular-patriótico, argumenta que algumas pesquisas indicam sua vitória, mas não divulga esses dados. Ele lembra também que a maioria das sondagens fracassou em suas previsões nas duas últimas eleições parlamentares russas.
Segunda maior potência nuclear do planeta e principal herdeira da desaparecida União Soviética, a Rússia realiza a segunda eleição presidencial direta de sua história.
O sistema político russo é presidencialista. Ieltsin arquitetou a concentração de poderes com a Constituição aprovada em 1993.
Os dois candidatos mais votados hoje devem se enfrentar novamente em julho. O segundo turno não vai ocorrer apenas se uma candidatura tiver mais de 50% dos votos, um cenário improvável.
Violência e tensão marcaram o final da campanha. Um atentado a bomba no metrô de Moscou matou quatro pessoas. Ieltsinistas e neocomunistas se acusaram.
Outro atentado a bomba quase matou Valeri Chantsev, candidato a vice-prefeito de Moscou na chapa de Iuri Lujkov, apoiada por Ieltsin. A eleição municipal na capital russa também ocorre hoje.
Os principais candidatos trocam também acusações sobre supostos esquemas para fraudar as eleições. Preparam terreno para tentar explicar eventual derrota ou até mesmo tentar anular a votação.
Ziuganov anunciou que 200 mil militantes do bloco popular-patriótico fiscalizarão a apuração. Observadores estrangeiros vão acompanhar o processo eleitoral.
Os cerca de 105 milhões de eleitores russos vão votar em 93 mil seções eleitorais. Há uma diferença de 11 horas entre os extremos do país, o maior do mundo. Quando a votação terminar em Vladivostok (leste), às 22h, ainda serão 11h em Kaliningrado (oeste).
A cédula vai trazer os nomes dos 11 candidatos e o item "nenhum deles". Mas há apenas dez concorrentes, porque Aman Tuleiev desistiu para apoiar Ziuganov.
No chamado campo "reformista" ou "democrático" se destacam o economista Grigori Iavlinski (11%) e o ex-presidente da URSS Mikhail Gorbatchov (1%).
Entre os nacionalistas, aparecem o general Alexander Lebed, com 9%, e o neofascista Vladimir Jirinovski, com 5%, o principal vencedor da eleição parlamentar de 1993, quando teve 20% dos votos.

LEIA MAIS sobre a eleição russa às páginas seguintes

Próximo Texto: Ieltsin consegue apoio ao explorar fantasma da URSS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.