São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Contrastes são expostos na votação

Documentos soviéticos persistem

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O posto de votação 2446, na rua Kossiguina (zona norte de Moscou), exemplifica os contrastes de um país que atravessou, nos últimos anos, dois sistemas. Heranças dos tempos soviéticos sobreviveram ao lado de mudanças impostas pela Rússia do capitalismo.
Nos tempos do Partido Comunista, os eleitores participavam do ritual de votar em cartas marcadas e, no posto de votação, eram recompensados com sanduíches de queijo ou salame, doces típicos russos e suco de frutas.
Na Rússia do capitalismo, a tradição de comer no posto eleitoral sobreviveu, mas agora o eleitor precisa pagar pelo que consome e tem a sua disposição um menu mais variado e ocidentalizado.
Em vez do suco de frutas nativas, latas de Coca-Cola por 2.480 rublos (US$ 0,50). No lugar de sanduíches de salame, vidros de morangos em conserva importados por 8.115 rublos (US$ 1,60).
Na hora de votar, os 1.900 eleitores inscritos no posto 2446 tinham a sua disposição a estréia de um sistema computadorizado de votação. Em fase de teste, as máquinas -que contam os votos de cada seção em dois minutos- foram instaladas em 15 locais diferentes.
Mas os eleitores, na hora de se identificar, ainda mostravam o passaporte vermelho com uma foice e martelo na capa.
A Rússia, cinco anos depois do fim da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), ainda não conseguiu substituir os passaportes emitidos nos tempos soviéticos. Para checar a identidade do eleitor, os mesários do posto 2446 folheavam o documento que estava marcado pelas iniciais CCCP (a sigla URSS, no alfabeto cirílico, que é usado pela língua russa).
Personalidades
O posto de votação da rua Kossiguina também recebeu o voto das duas figuras mais poderosas da URSS no final dos anos 80. Pela manhã, foi a vez de Iegor Ligachev votar.
Ligachev foi o número dois na hierarquia do Kremlin e simbolizava os setores mais ortodoxos do Partido Comunista. Hoje aposentado, disse estar estar seguro da vitória do neocomunista Guennadi Ziuganov.
O principal adversário de Ligachev nas lutas palacianas do Kremlin chegou para votar às 12h50 (5h50 de Brasília).
Mikhail Gorbatchov, o comandante da perestroika e ex-presidente da URSS, tenta influenciar novamente a vida política russa com a candidatura a presidente do país.
Gorbatchov disse que espera passar para o segundo turno, embora as pesquisas de opinião indiquem que ele tenha apenas 1% das intenções de voto. O candidato ainda afirmou que pretende fundar um partido político.

Texto Anterior: Os números da votação
Próximo Texto: Religiosos apóiam governo Netanyahu
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.