São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
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TRANSTORNO EMERGENCIAL

Ao determinar uma medida emergencial como o rodízio de automóveis em São Paulo, o poder público age contra a visível piora na qualidade do ar. Ao mesmo tempo, porém, denuncia indiretamente sua própria inoperância no controle de emissão de poluentes e a falta de prioridade na expansão do transporte público.
Governos passados esgotaram o Estado de São Paulo financeiramente, inviabilizando por alguns anos eventuais investimentos no metrô. A prefeitura, que deve ser a responsável pelos transportes coletivos, incluindo mesmo o metrô, gozou da disponibilidade de recursos, ainda que ao custo do endividamento. Mas a atual gestão priorizou obras destinadas ao transporte individual, que não só atendem a uma relativa minoria, como não combatem a poluição e pouco reduzem os congestionamentos.
Na cidade de São Paulo, dados da SP Transportes indicam que um ônibus trafega hoje, em média, com 45 passageiros. Segundo a CET, nos automóveis esse número é de apenas 1,5.
Grande parte dos mandatários do país não agem de modo a enfrentar os desafios colocados pela deterioração das condições ecológicas e da perda de qualidade de vida decorrente de um progresso desordenado. A frase do prefeito Paulo Maluf de que "congestionamento é progresso" foi apenas a explicitação de um ponto de vista que, lamentavelmente, não parece ser de exclusividade sua.
A situação é crítica. Há cálculos de que, se o rodízio for plenamente respeitado, o sistema de transporte público será incapaz de absorver 300 mil das 900 mil pessoas que deixariam de andar de automóveis.
Uma alternativa sustentável de redução do tráfego de carros implica a construção e manutenção de uma malha eficiente de transporte público, o que custa e leva tempo. Emergencialmente, é preciso que se estudem outras medidas, como a liberação de lotações ou a restrição de carros em certas regiões, combinadas à eventual criação de sistemas específicos de transporte público local. É imperativo amenizar os previsíveis transtornos causados pelo rodízio.

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