São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 1996
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Grupo de moradores tenta agredir Maluf

VICTOR AGOSTINHO
ROGERIO WASSERMANN

VICTOR AGOSTINHO; ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Prefeito foi insultado e teve seu carro sacudido e apedrejado; Maluf diz que isso é coisa 'radicais infiltrados'

O prefeito Paulo Maluf foi encurralado, ontem de manhã, nas vielas da favela Heliópolis por cerca de 150 moradores, que chegaram a tentar agredi-lo.
O Opala particular do prefeito foi sacudido pelos favelados e foi atingido por uma pedra. O carro da segurança, um Santana, teve a porta traseira amassada.
O incidente começou durante uma entrevista do prefeito na favela, por volta de 10h.
Moradores inconformados com o incêndio começaram a gritar e a xingar Maluf, depois que ele disse que a culpa pelas mortes era dos advogados do PT e da juíza, que não permitiram a reintegração de posse do terreno à prefeitura e a remoção dos moradores (leia texto nesta página).
Vinte integrantes da Guarda Civil Metropolitana e quatro seguranças fizeram, então, um cordão de isolamento para levar o prefeito até o carro. Os manifestantes continuaram a seguir o prefeito.
O cerco se manteve mesmo depois que Maluf entrou no carro. Uma pedra atingiu o Opala antes que ele deixasse Heliópolis.
Radicais
Na opinião do prefeito, a tentativa de agressão foi "coisa de uns cem radicais, com certeza ligados ao PT, infiltrados entre os mil que estavam lá". "Outros 900 me aplaudiram e pediam Cingapura", afirmou.
O prefeito disse que os manifestantes não conseguiram intimidá-lo. "Deus foi misericordioso comigo ao me poupar o sentimento do medo."
Maluf afirmou que foi ao local do incêndio "para consolar" os moradores. "Todo mundo sabe que sou contra a violência, que sou de paz", disse o prefeito.
Tiro
Depois que o prefeito deixou a favela, o rapaz que supostamente atirou a pedra em seu carro foi detido por um guarda-civil.
Moradores da favela cercaram o guarda, pedindo que ele liberasse o detido. O guarda sacou o revólver e deu um tiro para o ar. Depois, conseguiu correr e se esconder dentro de uma casa.
"Se houve o tiro, sou contra. Eu não ouvi tiro nenhum", disse o prefeito.
O capitão João Paulo, responsável pela segurança do prefeito, afirmou que não recebeu relatórios mencionando o tiro presenciado pela reportagem da Folha.
Segundo o capitão, os agentes do serviço reservado da PM, que estavam disfarçados na favela, também não comunicaram o tiro em seus relatórios.
O capitão afirmou que não vai pedir a abertura de sindicância para apurar quem deu o tiro. "Não tenho competência para isso."

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