São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Habitat 2: turismo habitacional

ROBERTO CAPUANO

Istambul é linda, mágica. Lá, delegações de todos os países buscaram soluções para o problema habitacional. Houve muitas propostas. O que, aliás, nunca faltou aqui mesmo no Brasil. Houve troca de informações, e aí a coisa complica.
Difícil explicar que no Brasil os agentes financeiros captam recursos de poupança para financiar habitações e não financiam alegando que dá prejuízo. E, quando financiavam, destinavam 75% dos recursos para imóveis de luxo ou lazer. O critério continua o mesmo. O limite dos financiamentos aumentado de R$ 70.000 para R$ 90.000 para compra de imóveis até R$ 180.000. Fato muito comemorado por construtores que alardearam essa "vitória" junto ao Banco Central (?).
A inexistência de crédito e de produção de habitações populares é tão grave que um barraco de favela custa três salários mínimos de aluguel. Também não deixa de ser interessante que no Brasil é o Banco Central que decide a destinação dos recursos habitacionais.
Com um fantástico déficit habitacional, acabamos com os pequenos construtores, tirando-lhes a competitividade ao financiar apenas empresas grandes. É difícil justificar que criamos uma legislação que inviabilizou os loteamentos populares e que o custo de uma escritura chega a quase 10% do valor do imóvel. Que o lucro imobiliário é altíssimo e existe imposto de renda para locação de imóveis populares. Quanta coisa difícil de estrangeiro entender...
Os imóveis populares construídos nos últimos 30 anos custaram o dobro do preço normal e foram na sua maioria construídos em terrenos imprestáveis. Sobre a locação social que vem sendo discutida há 12 anos: seu custo de implantação é zero, a geração de empregos imensa, e os recursos já existem no FGTS, no SFH e nos fundos de pensão. Falando dos fundos, apesar de riquíssimos e receberem suas contribuições de gente em muitos casos favelada, investem em shoppings, edifícios inteligentes e são os únicos compradores de quotas de fundos imobiliários. Não há mais ninguém que compre quotas com rentabilidade muito menor que a potencial.
Quanto à área de tecnologia, desde 1964 usamos um sistema jurássico de construção. E nosso sistema de geração de empregos consiste em financiar um construtor em US$ 3 milhões, a custo zero -porque repassa a dívida ao comprador-, com um lucro de 50% sobre o que não investiu para gerar cem empregos de salário mínimo que acabam junto com a obra.
Não é fácil explicar isso tudo. Melhor é fazer turismo.

Texto Anterior: Desabrigado não quer ir para a zona leste
Próximo Texto: Polícia do Rio vai indiciar donos de clínica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.