São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 1996
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Chutes

FERNANDO RODRIGUES
BRASÍLIA _ AFINAL, QUANTO VAI CRESCER O BRASIL NESTE ANO?

Para os mais céticos, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas) crescerá só algo em torno de 2%. Já para o presidente da República o crescimento será muito maior.
FHC, que hoje completa 65 anos, disse ontem o seguinte: "Todo o esforço do governo tem sido o de manter a economia crescendo, neste momento, ao redor de 4%. Lá pelo fim do ano, nós devemos estar crescendo numa velocidade de 6%".
É impossível dizer quem está certo. Há muito chute nessas previsões. Inclusive na fala do presidente. Aí é que está o problema.
Que economistas e jornalistas chutam, todos sabem. É deplorável. Mas cada um paga seu preço na hora de confirmar a previsão.
Só que, nesse caso, é o presidente da República quem está chutando.
FHC diz que a economia vai estar crescendo 6% em dezembro. Mas não menciona que houve recessão no primeiro trimestre. Qual será, então, a taxa de crescimento do ano todo? O presidente não diz.
Para que o país cresça, digamos, 6% neste ano seria necessário que as taxas de crescimento em novembro e dezembro ficassem muito acima de 10%. Isso, sem risco de estar chutando, certamente não vai ocorrer.
Na sua argumentação de ontem, FHC apenas disse em público o que vem afirmando reservadamente para seus ministros e principais assessores da área econômica. "Se ficar falando que vai dar 2,5% ou 3% vão dizer que será só 2%. Temos de dizer que vai ser 4% ou mais. Além disso, hoje ninguém sabe apurar direito de quanto está sendo o crescimento".
Seria bom que os chutes do presidente dessem certo. Não há quem não queira o crescimento do país.
Mas quando o chute é muito para o alto, exagerado, pode ser apenas o que é: um chute.

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