São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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'Rei da Comédia' é tratado sobre monstros da TV

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O que a TV faz com as pessoas que trabalham nela, com as pessoas que aparecem na pequena tela e se tornam celebridades?
E o que faz a TV com as pessoas que não trabalham nela, mas se julgam capazes de entrar nesse mundo de sonho, aparentemente ao alcance de todos?
Martin Scorsese propõe essas duas questões em "O Rei da Comédia" (Globo, 1h10), filme produzido em 1983 que promete algumas surpresas.
Para começar, o rei da comédia a que se refere o título não é Jerry Lewis. É Robert De Niro, na verdade suposto rei, que se julga um gênio desconhecido do humor.
Jerry é um apresentador de sucesso, que veste a máscara da seriedade com toda seriedade. Isto é, é o rei da empáfia e do mau-humor.
E De Niro (Rupert Pupkin, no filme) mostra o quanto é possível perder a cabeça por alguns minutos de fama: chegará ao ponto de sequestrar o apresentador, em troca de alguns minutos na televisão.
Existe aí, claro, uma disfunção pessoal. Mas é a disfunção social que interessa mais diretamente a Martin Scorsese.
É como se tudo consistisse em indagar que tipo de valor imaginário a fama agrega, perversamente, às pessoas.
Nesse sentido, Pupkin não é muito diferente de Jerry (aliás, Jerry Langford). O consagrado e o joão-ninguém são dois lados de uma moeda. Uma "moeda podre", seria possível dizer, na terminologia criada pelas disfunções econômicas nacionais: a fama é só a ilusão que toma o lugar do sujeito para melhor aliená-lo.
(IA)

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