São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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Sala de Mestre Didi reunirá obras realizadas em 33 anos

Artista baiano é sacerdote religioso do culto de Obaluaiyê

DA REDAÇÃO

A organização da 23ª Bienal apresentou ontem detalhes da sala especial que será dedicada à obra do artista baiano e sacerdote religioso Deoscoredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi.
A entrevista coletiva, realizada no pavilhão da Bienal, contou com a presença do próprio artista, da antropóloga argentina Juana Elbein e do curador Nelson Aguilar.
Mestre Didi ocupará uma sala especial no terceiro andar da Bienal com 33 peças, realizadas de 64 a 96.
Apesar de o número de peças corresponder exatamente ao número de anos do período, deve prevalecer sua produção recente, já que, segundo Juana Elbein, Mestre Didi criou várias peças especialmente para o evento, algumas com mais de três metros.
Mestre Didi é um sacerdote do culto de Obaluaiyê, de tradição Nagô. Modela, esculpe e realiza objetos para rituais religiosos, em que emprega madeira, palha, búzios etc. Segundo Juana Elbein, Mestre Didi não fala em público ou dá entrevistas, pois, como sacerdote, suas palavras não podem ser alteradas. Então fala ela pelo artista, que conheceu em 1964 e com quem se casou, no ano seguinte.
Segundo Elbein, Mestre Didi deve ser considerado um artista e não apenas um reprodutor de objetos de utilidade religiosa, já que, mais que sacerdote-artista, ele é um artista. "Mestre Didi cria novos objetos, que extrapolam a forma religiosa", disse. Também disse que o conceito "arte" não existe na cultura africana de Mestre Didi e que é substituído pelo conceito "odara" (o belo que carrega em si noções de bondade e de sabedoria).
Nelson Aguilar justifica a presença de Mestre Didi em uma Bienal cujo tema é a "desmaterialização" dizendo que vivemos em um mundo de diásporas e de objetos deslocados. "Não conheço a simbologia dos objetos, mas eles têm uma grande força conceitual e por isso estão na Bienal", disse.

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