São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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PARABÉNS PARA MIM

Na véspera de seu natalício, o presidente da República resolveu dar à nação um presente: previu que a economia brasileira estará crescendo 6% ao ano ao fim de 96.
Na visão presidencial o pior já passou. E está mais do que na hora, ainda mais com a proximidade das eleições municipais, de dar um basta ao pessimismo de plantão.
Na mesma fala o presidente arrependeu-se de ter assinado a Constituição de 88. Segundo FHC, está ao alcance do governo direcionar apenas 10% do seu Orçamento. É com isso que se poderia "exercer alguma política". Defendeu ainda o Proer e a CPMF e voltou a sustentar a necessidade de reformas constitucionais.
O problema no pronunciamento do presidente é a evidente contradição entre o presente anunciado (mais crescimento econômico com inflação declinante) e os instrumentos que, ele mesmo admite, são limitados para torná-lo realidade.
Sem liberdade para gastar e precisando arrecadar mais, o governo não pode servir como mola propulsora do crescimento e, ao mesmo tempo, é um fator relevante no "custo Brasil". E o Proer, seja ou não justificável, tem significado mais despesas, não necessariamente estimulantes do ponto de vista do crescimento econômico. Despesas que a sociedade é obrigada a financiar, por meio de impostos ou de juros ainda altos.
Alguma melhora nos indicadores de crescimento econômico deve vir, nos próximos meses, por duas vias. De um lado, mesmo sem apostar com total confiança em que o pior já tenha passado em termos de inadimplência e desemprego, é plausível imaginar que a situação pelo menos não continue a piorar. Assim, as estatísticas poderão ser menos preocupantes levando-se em conta a deprimida base de comparação. De outro lado, o governo tem liberado gradualmente o crédito ao consumo. Acreditar que em dezembro, com Natal e décimo terceiro, a economia esteja aquecida e com inflação contida não é absurdo. O problema é saber se isso será sustentável.
Ainda não há razões para imaginar que o anúncio presidencial não passa de um desses desejos que se concede aos aniversariantes quando assopram, de olhos fechados, as velas do bolo. Mas se abrir os olhos, o que verá à sua volta não é bem uma festa.

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